quinta-feira, 21 de maio de 2015

Ex-aluno da UVA/CE e Bolsistas de Doutorado da CAPES Criam Sistema de Apoio às Ações Científicas em Escolas Públicas



          Um grupo de bolsistas de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) decidiu criar uma plataforma online para apoiar atividades de desenvolvimento científico em escolas públicas brasileiras. Trata-se da +Science, em que professores da rede pública de ensino enviam propostas de desenvolvimento de projetos e o grupo seleciona um doutorando para colaborar com as atividades de pesquisa. "É uma maneira de inserção e integração da ciência no cotidiano dos jovens estudantes", explica Esequiel Mesquita, um dos idealizadores da plataforma e bolsista da Capes no doutorado em Engenharia Civil na Universidade do Porto, em Portugal.
Um dos objetivos da +Science é fazer uma ponte entre os ensinos superior e médio públicos e gratuitos (Divulgação).

          Segundo o Esequiel, a plataforma não está relacionada diretamente com o tema do doutorado, mas sim à condição de bolsista da Capes. "A ideia da criação da +Science surgiu mediante as expressões populares que aconteceram no Brasil nos últimos meses, em que a população brasileira mostrou que quer uma mudança efetiva na forma como algumas coisas acontecem em nosso país. Eu e um grupo de amigos, que conheci por ocasião do doutorado no exterior, todos bolsistas da Capes, discutimos bastante sobre qual seria o nosso papel e que tipos de respostas nós poderíamos dar para a sociedade, uma vez que nossas bolsas de estudo são pagas pelos impostos arrecadados no nosso país", explica.
          Além de Esequiel, Carolina Caretti, doutoranda em Literatura pela Universidade Estadual Paulista, Eimard Nascimento, doutorando em Matemática pela Universidade de Aveiro, em Portugal, e Cristiano Reis, doutorando em Engenharia de Biossistemas pela University of Minnesota, nos Estados Unidos, formam a equipe gestora da plataforma.
          Já são 44 pesquisadores voluntários cadastrados e duas escolas cearenses participando: a Escola de Ensino Médio de Irauçuba, em Irauçuba, e a Escola Estadual de Educação Profissional José Ribeiro Damasceno, no Trairi. Além disso, três escolas do Rio Grande do Sul entraram em contato para mais informações sobre o projeto.
          Os pesquisadores voluntários são alunos brasileiros de doutorado distribuídos por diversas instituições, como Universidade de Lisboa, Universidade Federal do Paraná, Dublin Institute of Technology, Universidade de São Paulo, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Florida Institute of Technology, Aix-Marseille Université, Cornell University, University College Dublin, dentre outras.
Responsabilidade social
          O bolsista destaca o caráter de responsabilidade social da ferramenta. "De maneira nenhuma nós concordamos em estarmos sendo investidos pelo povo brasileiro sem que haja uma forma de contribuição efetiva para o desenvolvimento da ciência em nosso país durante este período. Para nós esta é uma questão que vai muito além das nossas responsabilidades enquanto profissionais em formação, é mesmo uma questão cívica. Nós acreditamos que a educação é a base mais forte em que um país pode apoiar-se para crescer e compartilhamos a ideia de que, para que a educação melhore, cada um de nós deve assumir sua responsabilidade diante do contexto social e fazer a sua parte", define Esequiel, natural da cidade de Irauçuba, no Ceará.
          De acordo com a equipe gestora da plataforma, um dos objetivos da +Science é fazer uma ponte entre os ensinos superior e médio públicos e gratuitos. "Uma vez que, em muitos casos, os pesquisadores de pós-graduação seguem seus caminhos profissionais na pesquisa acadêmica ou em empresas privadas, o que tangencia uma atuação direta no ensino público", explicam, por meio de nota. Os estudantes pretendem integrar pesquisadores financiados por órgãos governamentais às iniciativas surgidas nas escolas públicas, "de modo a não perder de vista que um dos pilares sobre o qual se assenta a universidade pública brasileira é a extensão, elemento indissociável da pesquisa e do ensino acadêmicos."

Retorno à sociedade
          Todo o trabalho é voluntário e, inicialmente, o ganho aos participantes se dá na forma de experiência ao orientarem os projetos, pois muitos dos participantes ainda não contam com vivência efetiva com o ensino. "A escola é a práxis, é onde o lema 'Pátria educadora' ganha corpo, onde o destino social e profissional dos jovens é muitas vezes definido. Além disso, este tipo de vivência também nos aproxima da rede pública do ensino e, fundamentalmente, acho que nos ajuda a cumprir um papel essencial para o desenvolvimento do Brasil: a integração dos jovens com a ciência", destacam.
          Os gestores da +Science afirmam ter consciência de serem privilegiados por poderem contar com apoio governamental para as pesquisas e, por isso, querem dar esse retorno à sociedade. A plataforma foi a forma encontrada para retribuir à população a confiança investida por meio das bolsas concedidas pelas agências de fomento. Esequiel também foi bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) durante a graduação em Engenharia Civil pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).
          "O Brasil tem um número cada vez maior de mestres e doutores, com pesquisas e produções científicas gerando impacto na indústria, na medicina, por exemplo, mas isto não necessariamente tem reflexos no ensino público, pois é pequeno o número de profissionais que se voltam para a atuação nas salas de aula. Produzir ciência e cultura com recursos públicos nos faz pensar que, de alguma maneira, o retorno à sociedade deve existir e que, se tal retorno for feito de maneira direta, toda a nossa trajetória terá valido muito mais a pena", explicam.
Já são 44 pesquisadores voluntários cadastrados e três escolas da educação básica participantes (Divulgação).
Estudos no exterior
          De acordo com Esequiel a oportunidade de realização do doutorado no exterior é uma iniciativa vitoriosa. "Já começamos a colher os frutos desse investimento, de promover a internacionalização da pesquisa brasileira e na formação de jovens pesquisadores de alto nível. Para nós bolsistas, é extremamente importante esta iniciativa da Capes, pois, além de termos uma boa formação enquanto pesquisadores e da nossa inclusão em centros de excelência em áreas que ainda não estão consolidadas no Brasil, vivenciamos diariamente as boas práticas da pesquisa científica e que, sem dúvida, serão bastante úteis para o desempenho da nossa futura função como agentes de desenvolvimento no Brasil, quando regressarmos do doutorado", conclui.

Como participar
          Os professores interessados devem preencher o formulário online com os dados da escola, grupo de alunos envolvidos e principais interesses científicos, juntamente com uma breve proposta de projeto de pesquisa, com no máximo três páginas, contendo título, grupo de trabalho (alunos e outros professores), área de concentração, introdução, objetivos, metodologia, resultados esperados, e a bibliografia.
          Os estudantes de mestrado e doutorado interessados devem preencher o formulário PhD Action com seus dados acadêmicos e principais áreas de atuação. Para realizar a inscrição é necessário confirmar a disponibilidade de 1h semanal para apoiar os grupos de pesquisas das escolas públicas brasileiras.
Acesse o site da +Science.

sábado, 9 de maio de 2015

Educação Superior Pública: em busca do direito



Artigo de Soraya Smaili, reitora da Unifesp, publicado na revista Carta Capital em 29/04/2015.

          Aqui está algo que deveríamos nos perguntar e refletir: a universidade deve ser um bem de consumo ou uma prestação de serviço por empresas privadas e com fins lucrativos?
          A realização do Fórum em Defesa da Educação Pública pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) trouxe mais um debate interessante e fundamental, o da Educação como direito. É certo que, como assegura a Constituição, a Educação é um direito do cidadão e um dever do Estado. Todos deveriam ter a oportunidade de acessá-la e ao mesmo tempo de receber uma educação de qualidade.
          Apesar de verificarmos, nos últimos anos, um aumento das possibilidades de acesso, isso não se traduziu em melhoria de qualidade ou de acesso democrático. Por isso, a defesa do aumento nos investimentos em Educação, em especial a Educação Pública, é tão premente e necessária. De fato, é a Educação que universaliza e cria isonomia de condições, independente da classe social.
          Se para a Educação básica e fundamental há o que fazer para garantir o acesso a todas as crianças em idade escolar, a situação na Educação Superior é mais difícil. Isso porque ela ainda não é considerada um direito e a garantia de acesso a todos os jovens entre 18 e 24 anos precisa caminhar rapidamente para ser alcançada.
          Ao contrário, o que verificamos mais recentemente, tem sido um ataque ao pensamento crítico, que é a base da universidade. Esse aspecto se agrava com a inclusão da educação como parte do acordo internacional do comércio, no qual a Educação Superior passou a ser considerada um serviço.
          Aqui está algo que deveríamos nos perguntar e refletir: a Educação Superior deve ser um bem de consumo ou uma prestação de serviço por empresas privadas e com fins lucrativos? O que vemos são fusões de empresas de capital externo e interno, conglomerados educacionais que compram faculdades todos os dias. Um dado alarmante desse crescimento é que os três maiores grupos privados de ensino detêm mais de 2 milhões de estudantes em nível superior.
          Por isso, queremos não só a defesa da Educação Pública. Queremos também a consolidação e a expansão do nosso projeto de Educação Superior Pública que hoje atende 1,1 milhão nas Universidades, mais de 2 milhões no ensino técnico e tecnológico, mas que poderá atender muito mais.
          Justamente porque queremos consolidar e crescer, realizamos o Fórum em Defesa da Educação Superior Pública, que reuniu excelentes especialistas e um debate aprofundado. Aprovamos um manifesto que passou a receber assinaturas de entidades, reitores, parlamentares e intelectuais preocupados com a continuidade da universidade pública e de qualidade.
          O objetivo é apenas e tão somente um: unir forças para alcançar uma universidade acessível e com padrão de qualidade aos jovens que queiram adentrá-la.
          Por isso, lançamos um Manifesto em Defesa da Educação Superior Pública que está agora sendo enviado aos Ministérios e governos Estaduais e Municipais, com um apelo: que não tenhamos cortes na Educação, pois Educação não combina com ajuste fiscal. O manifesto aceita adesões por e-mail. Esperamos que este seja o início de um Fórum permanente de valorização da Educação Pública e que a universidade cumpra o seu papel em prol da sociedade.
Leia o documento a seguir.

Manifesto em defesa da educação pública
          Com a Constituição Federal de 1988, foram determinados alguns princípios fundamentais para a educação nacional, tais como a gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais para todos os níveis; a perspectiva de obrigatoriedade para o Ensino Médio e o atendimento às crianças de 0 a 6 anos na educação infantil.
          Do ponto de vista do financiamento, foi estabelecida uma política de fundos para a educação básica – inicialmente, com o Fundef, e, atualmente, com o Fundeb -, tendo sido vinculados constitucionalmente recursos para a viabilização de tal política. Do ponto de vista do atendimento, a educação básica avançou nos últimos anos, ainda que não tenha alcançado a universalização e nem superado as desigualdades regionais.
          Um dado digno de nota é que 83% do total das matrículas para este nível de ensino ocorreram na rede pública (dados de 2013). Do ponto de vista da qualidade, ainda há muito a avançar, por isso, continuamos alinhados à luta histórica por mais recursos, defendendo o cumprimento imediato dos 10% do PIB para a educação pública.
          Em relação ao ensino superior público, houve, na última década, um movimento de expansão, iniciado, em 2003, e estendido, em 2007, com o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). No entanto, cinco anos depois, em 2012, o atendimento público em nível superior continuou tímido: dos 7,2 milhões de alunos matriculados em cursos de graduação, 73,4% estavam em instituições privadas; 15,2% em federais, 8,8% em estaduais e 2,6% em municipais.
          Os desafios da democratização do acesso à educação superior de qualidade ainda estão longe de serem alcançados. Uma das metas do atual Plano Nacional de Educação é a de elevar a taxa de matrícula para 33% da população de 18 a 24 anos e assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público.
          Para além da expansão quantitativa, é fundamental a defesa da qualidade do ensino superior, assim como a garantia de recursos adicionais de custeio proporcionais à expansão já alcançada, ampliando ações afirmativas e de assistência estudantil.
          Infelizmente, entre 2013 e 2014, houve um ponto de inflexão nas políticas do governo federal para a educação superior pública, com o fim do Programa Reuni e a ausência de novas diretrizes para a consolidação e expansão das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).
          Concomitantemente, houve a criação ou ampliação de programas de incentivo ao ensino privado, tais como o Programa Universidade para Todos (Prouni), o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e a alteração e flexibilização das regras do Fundo do Financiamento Estudantil (Fies). Para efeito de comparação no orçamento de 2015, somente para empréstimos do Fies, estão previstos R$ 15 bilhões e o orçamento de custeio básico de todas as universidades federais do país, em 2014, foi muito inferior, de R$ 2,4 bilhões.
          Em 2015, as dificuldades na aprovação do orçamento no Congresso Nacional e a política de ajuste das contas públicas do governo federal produziram uma redução na liberação de recursos para as IFES, o que prejudicou o desenvolvimento adequado das atividades básicas de ensino, pesquisa e extensão.
          As universidades públicas, entre elas as federais, são as principais responsáveis pela produção de conhecimento no Brasil. Desempenham um papel chave no debate de ideias, na discussão pública e na formação democrática dos jovens estudantes. Ocupam, por isso, um lugar de destaque no desenvolvimento do país e na vida da população.
          Nesse contexto, ganha importância estratégica a definição de uma política de Estado que permita o fortalecimento da educação como um todo, e em particular a consolidação e a expansão das IFES no país, estabelecendo metas e prazos e, fundamentalmente, com compromisso por parte do governo federal de garantir os recursos humanos e financeiros necessários ao cumprimento dessa política. Nos colocamos a disposição para atingir o objetivo de transformar o Brasil em “Pátria educadora”.
          Precisamos, portanto, que o governo federal:
  • Libere urgentemente e sem cortes o orçamento do MEC de 2015;
  • Acelere a aplicação dos 10% do PIB na educação pública;
  • Defina uma política de Estado sobre consolidação e expansão com qualidade do ensino público superior;
  • Aumente as verbas para a pesquisa científica, tecnológica e em humanidades;
  • Encaminhe, e lute pela aprovação junto ao Congresso Nacional, uma proposta de criação de novas vagas para professores e técnicos administrativos em educação;
  • Garanta auxílios e assistência estudantil com ampliação das verbas do PNAES e de outras políticas de assistência.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Capes aprova criação do PROFQUI, mestrado profissional em rede para professores de Química


Curso terá coordenação da UFRJ e participação de várias universidades pelo país com o objetivo de beneficiar o professor do ensino fundamental e médio.


         A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), órgão ligado ao Ministério da Educação, aprovou no mês passado o Profqui, um programa de mestrado profissional em Química, para professores do ensino fundamental e médio. A ação segue os moldes do bem-sucedido Profmat, aprovado em 2010 e iniciado em 2011, e que hoje beneficia professores em todos os estados do Brasil.
         O projeto e o programa foram discutidos intensamente pela comunidade Química, com o envolvimento direto de profissionais de diversas áreas que ao longo de vários meses contribuíram efetivamente para o enriquecimento e consolidação do modelo final, que foi recentemente aprovado pela CAPES. É importante salientar o papel da SBQ na condução democrática deste complexo processo, fundamental para o êxito de sua aprovação. A SBQ não coordenará o Profqui, por não ser uma instituição de ensino superior, o que é requerido de acordo com as normas regimentais, mas participará ativamente do conselho gestor com 3 representantes. A coordenação ficará a cargo do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que foi escolhida entre as instituições que se candidataram.
         "A ideia é beneficiar professores que estão dando aula, sem que precisem parar de lecionar", afirma Claudia Rezende, professora do Instituto de Química da UFRJ, que participou do grupo que vem elaborando o Profqui junto à Capes. "Esperamos trilhar o caminho de sucesso do mestrado profissional em Matemática, que hoje conta com cerca de 80 instituições de ensino participantes", explica a professora.
         O Profqui é um mestrado em rede. Isso significa que haverá uma ementa única e uma instituição coordenadora, e a rede de instituições participantes seguirá essas diretrizes. Como qualquer mestrado, terá duração de dois anos em que os alunos cursarão as disciplinas e produzirão uma monografia a ser defendida ao final. E, ao contrário dos mestrados acadêmicos, os alunos não devem parar de trabalhar durante este período.
         "Em última análise, o Profqui vai beneficiar toda a rede de ensino, porque o professor se qualifica com um olhar de sala de aula, e pode aplicar imediatamente o conteúdo no seu dia-a-dia", observa Claudia Rezende, que destacou o trabalho dos professores envolvidos na elaboração do curso.
         Para o professor Vitor Francisco Ferreira (UFF), ex-presidente da SBQ e membro do Conselho Consultivo da entidade, a aprovação do Profqui é um passo importante no aprimoramento do ensino desta ciência no Brasil. "Houve muita conversa internamente para formar a rede de universidades participantes e escolher a universidade coordenadora. Já temos 20 instituições que aderiram, e esse número deverá crescer ao longo do tempo", conta Vitor Ferreira.
         A Capes ainda informará quantas bolsas serão concedidas para participantes – a intenção é beneficiar principalmente professores do ensino público.
         O professor Waldmir Araujo Neto, representante do núcleo de Educação à Distância, da UFRJ, explica que o Profqui utilizará também ferramentas tecnológicas em suas ações curriculares. Além da plataforma Moodle, teremos o recurso da produção de vídeos com autoria. Os professores do curso em cada universidade participante poderão produzir seus vídeos de forma a adaptar o conteúdo do Profqui às diferentes realidades locais, e essas modalidades poderão ser compartilhadas pela rede", explica Araújo. "O Profqui é arrojado, e temos uma expectativa muito grande neste cenário de como cada instituição participante entende que o ensino de Química pode ser trabalhado."
         Conheça o Profmat, referência de mestrado profissional para professores no Brasil: http://www.profmat-sbm.org.br/ 
Texto: Mario Henrique Viana (Assessoria de Imprensa da SBQ)

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Ministro defende intervenção no ensino e mudança radical dos currículos


Proposta preliminar de Mangabeira Unger para o projeto “Pátria Educadora” inclui nova divisão de recursos da educação e carreira única para professores de todo o País

          O ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Roberto Mangabeira Unger, apresentou, em audiência pública da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, uma proposta preliminar que prevê alterações profundas no sistema de ensino brasileiro. Ele disse ter sido incumbido de formular a proposta pela presidente Dilma Rousseff, dentro do projeto “Pátria Educadora”. “Este é um projeto de Estado e é a prioridade número um da presidente”, disse.
          A proposta de Mangabeira prevê uma intervenção na educação, principalmente na qualidade das escolas de municípios com fraco desempenho. Ele chama isso de “cooperação federativa”. “Tudo em matéria de educação passa pelo federalismo cooperativo, que é a maneira de organizar a cooperação entre governo federal, estados e municípios”, explicou.
Ele propõe mudanças na divisão de recursos para União, estados e municípios, e a transferência de investimentos para lugares com ensino deficiente a partir da avaliação de órgãos colegiados inspirados no Sistema Único de Saúde (SUS). Isso seria feito por meio de um órgão que teria a participação dos três entes federativos, com a missão de identificar os problemas regionais e intervir para que a qualidade do ensino aumente.
          O plano de Mangabeira prevê ainda uma alteração radical nos currículos escolares, a adoção de uma carreira nacional para os professores, mudança no processo de formação de docentes e na forma de escolha de diretores de escolas baseada em mérito.

Currículo
          Mangabeira Unger fez críticas ao ensino tradicional. “A tradição no Brasil é de enciclopedismo raso. É um decoreba. Como se o melhor aluno fosse aquele que conseguisse decorar a enciclopédia. Esse modelo briga com os pendores dos brasileiros, não é nossa natureza. O Brasil é uma anarquia criadora”, disse.
          A proposta da Secretaria de Assuntos Estratégicos sugere mudança em todos os currículos, com menos conteúdos e maior profundidade no ensino. “É uma maneira de desenvolver as capacitações analíticas. Aprende-se criticando e criando”, explicou. “Profundidade conta mais que abrangência. Temos que enxugar o currículo.”

Recursos
          Ele também propõe a extensão do período escolar, além do aumento da qualidade do ensino, e para isso ele sugere uma nova divisão dos recursos e das atribuições dos entes federados para a implantação de um sistema nacional de ensino, em especial a transferência de recursos dos lugares mais ricos para lugares mais pobres. Ele admitiu a criação de um novo fundo para isso.
          “O Fundeb (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico) tem sentido apenas levemente distribuidor. Ele ajuda a elevar os estados mais carentes a um patamar mínimo. Mas estamos discutindo agora formas de fortalecer esse sentido distribuidor. Ou dentro do Fundeb ou dentro dos recursos do FNDE ou definindo, no futuro, um terceiro fundo”, disse.

Diretores
          O ministro defendeu a criação de centros regionais de formação de diretores de escola e afirmou ser contra a seleção apenas mediante eleição. “Diretores são muito importantes. Eles teriam que ser escolhidos entre os mais qualificados. A qualificação tem que ser o primeiro critério, mesmo que o segundo seja o processo eletivo”, disse.
          A proposta prevê também que os professores tenham dedicação exclusiva a apenas uma escola e que não ensinem apenas uma disciplina, mas várias disciplinas dentro de uma área.

Piso salarial
          Mangabeira Unger quer ainda mudança na formação de professores, com uma carreira nacional e a adoção de um piso nacional salarial que permita a progressão funcional. “A ideia é propor aos estados diretrizes de uma carreira comum, nacional, e essa carreira tem que ser vinculada ao piso salarial nacional, definido de modo a respeitar as diferenças regionais e a permitir uma progressão dentro da carreira”, disse.
          Ao responder pergunta da deputada professora Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), autora do requerimento da audiência pública, ele disse que a discussão do piso salarial não pode superar a da carreira. Segundo a deputada, muitos estados não estão cumprindo o piso por falta de recursos.
          “Há um perigo a enfrentar em relação ao piso. Não podemos permitir que a questão maior, da carreira nacional, seja inibida pelo piso. O piso é um tema menor. O importante deve ser a carreira e não o piso”, disse.
(Antonio Vital / Agência Câmara Notícias)