quinta-feira, 5 de julho de 2012

O Ensino Médio de Química: o que Fazer para Melhorá-lo?

A Sociedade Brasileira de Química, ao completar 35 anos, reafirma-se como uma das principais sociedades científicas do país. A importância da SBQ para o alto padrão alcançado pelo sistema universitário brasileiro, desde a sua criação em 1977, pode ser mensurada pelos vários Reitores, Vice-Reitores e Pró-Reitores de Universidades de todas as regiões do país que pertenceram às Diretorias e Conselhos Consultivos ou que foram Secretários Regionais da SBQ. Muitas dessas lideranças foram forjadas nas memoráveis assembléias gerais das Reuniões Anuais da SBQ.

Ao lançar os periódicos: Química Nova, Journal of the Brazilian Chemical Society (JBCS), Química Nova na Escola e, recentemente, a Revista Virtual de Química (RVq), a SBQ mostrou que é possível manter no Brasil revistas científicas com padrão de qualidade internacional elevado. Não é por outra razão que alguns artigos publicados no JBCS já ultrapassaram a centena e meia de citações nos bancos de dados Web of Science e Scopus [1-5].

A SBQ sempre manteve relacionamento de proximidade, mas digno, com os governos brasileiros após as eleições de 1984. Procurou sempre ser representativa deixando de lado o lobby e exercendo a crítica quando necessária.

Com os Eixos Mobilizadores [6], sócios da SBQ fizeram propostas ousadas para a pós-graduação e para a formação de recursos humanos qualificados. Graças à iniciativa de reunir os coordenadores de pós-graduação, hoje diversas áreas do conhecimento adotam essa prática, cuja finalidade principal é dar transparência ao processo de avaliação dos programas de PG da CAPES. Hoje a pós-graduação da área de Química pode se orgulhar de ser uma das mais produtivas e qualificadas na grande área de Ciências Exatas e da Terra.

Esses são exemplos que mostram que as sociedades científicas, quando atuam com dignidade e entusiasmo, longe das benesses que poluem a história do Brasil desde a chegada dos portugueses, contribuem para o desenvolvimento científico e tecnológico. Porém, se muito já foi feito pela SBQ, muito mais está por ser feito.

O Brasil, apesar dos avanços que alcançou nos últimos 20 anos, ainda é um país injusto e assimétrico com grande parte da sua população. A injustiça e a assimetria precisam ser equacionadas nos próximos anos e a solução dessa equação chama-se EDUCAÇÃO.


Enquanto os professores do Ensino Médio e Fundamental tiverem os piores salários entre todos os profissionais com nível superior, o desenvolvimento social e a democracia estarão comprometidos. Essa é uma das bandeiras que a Diretoria e o Conselho Consultivo da SBQ devem empunhar, porque todas as conquistas alcançadas até aqui pela química brasileira podem rolar ladeira abaixo, se nada for feito para melhorar a formação dos licenciados em Química.

O aumento de salário não basta; é necessário que os Programas de Pós-Graduação, as grandes Empresas de Química, os Diretores e Chefes de Departamentos de Química façam a sua parte, que não é pequena. Os coordenadores de Pós-graduação, por exemplo, podem começar a adotar uma Escola de Ensino Médio estruturando laboratórios para aulas experimentais de Química.

Isso é pouco? É, mas pode ser apenas o começo de uma grande revolução do Ensino Médio brasileiro.
J. Braz. Chem. Soc., Vol. 23, No. 6, 985, 2012.

Angelo C. Pinto

Editor JBCS
Referências

1. Schuchardt, U.; Sercheli, R.; Vargas, R. M.;     J. Braz. Chem. Soc. 1998, 9, 199.
2. Dupont, J.;   J. Braz. Chem. Soc. 2004, 15, 341.
3. Da Silva, J. F. M.; Garden, S. J.; Pinto, A. C.;   J. Braz. Chem. Soc. 2001, 9, 273.
4. Pinto, A. C.; Guarieiro, L. L. N.; Rezende, M. J. C.; Ribeiro, N. M.; Torres, E. A.; Lopes, W. A.; Pereira, P. A. P.; de Andrade, J. B.;   J. Braz. Chem. Soc. 2005, 16, 1313.
5. Dias, L. C.    J. Braz. Chem. Soc. 1997, 8, 289.
6. De Andrade, J. B.; Cadore, S.; Vieira, P. C.; Zucco, C.; Pinto, A. C.;  Quim. Nova 2003, 26, 445.

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