sexta-feira, 27 de julho de 2012

Curso de licenciatura: o desafio de formar bons professores ontem e hoje

Curso de licenciatura: o desafio de formar bons professores ontem e hoje

Ana Monteiro, diretora da Faculdade da Educação da UFRJ, fala sobre a evolução da formação docente e sobre a demanda urgente por qualificação 

Dados do Censo da Educação Superior de 2009, divulgados em 2011, revelaram um aumento no número de formados em cursos de licenciatura, aqueles destinados à formação de professores para o Ensino Fundamental e Ensino Médio. Em 2002, foram 133 mil formandos e em 2009, 241 mil. Mas esses cursos de licenciatura formam bons profissionais? De acordo com Ana Monteiro, diretora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o governo ampliou o acesso à educação, mas ainda precisa resolver outros problemas.

“Como formar professores qualificados para atender a demanda, uma vez que os salários não são atrativos? Os estudantes não querem ingressar em uma carreira que perdeu o prestígio, aí se voltam para a área de pesquisa. A demanda por bons professores é urgente – para trabalhar na escola de hoje, com o aluno de hoje. Parece que só o cientista produz conhecimento, mas o professor também o faz, em outro contexto. Ele não está EM um laboratório, mas em uma escola, e trabalhar com a formação de pessoas é um desafio muito complexo”, ressalta.

Para a diretora, os cursos de licenciatura sempre podem melhorar. “Acho que ainda falta articulação com os professores que ministram as disciplinas específicas. Por exemplo, um aluno de história que tem aulas no campus do Largo do São Francisco, no Centro do Rio, e faz disciplinas de licenciatura no campus da Praia Vermelha, na Urca: os professores dos campi não se falam, não há uma articulação entre os docentes que estão cuidando dos alunos”.

Para entender como funciona a licenciatura hoje, precisamos voltar ao passado. O curso de formação de professores nasceu na antiga Universidade do Brasil, atualmente UFRJ, na década de 30, na Faculdade de Filosofia. Em 1968, a Faculdade de Filosofia deixou de exercer a função de formar professores, e se criou a Faculdade de Educação, que passou a oferecer a formação de licenciatura, e os institutos de ensino. A fórmula utilizada era a chamada “3 + 1”, com o aluno tendo três anos de formação específica na área e um ano de formação pedagógica.

“O sistema de licenciatura criado na UFRJ acabou sendo copiado pelas outras universidades do país e formou uma geração de professores qualificados. Com o passar do tempo, o papel do professor e da escola foi mais e mais questionado. Percebemos também que a formação pedagógica precisava ser mais ampla. Em 2002, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou uma resolução mudando a fórmula do ‘3 + 1. O aluno já pode ingressar direto para fazer o curso de licenciatura, não é o bacharel que depois vai fazer a licenciatura. Acho que essa mudança é importante, porque valoriza a licenciatura e atende a demanda do futuro professor, que se sente mais preparado para a hora ‘h’ quando entrar na sala de aula. Muitos alunos reclamavam que não se sentiam prontos para lidar com crianças e jovens”, explica Ana.

Segundo a diretora, os cursos que já tem opção de licenciatura no vestibular são Química, Física, Matemática, Geografia, Educação Artística, Letras, História e Literatura. Após alguns períodos, os alunos podem optar pela licenciatura ou bacharelado. As disciplinas específicas de licenciatura são Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º e 2º graus, Didática, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, Fundamentos Filosóficos da Educação e Prática de Ensino.

“O futuro professor começa a ter contato com os alunos quando faz a Prática de Ensino, uma espécie de estágio supervisionado por um professor. A prioridade é o que estágio seja feito em escolas públicas, eventualmente em colégios particulares. Em 2001, o governo determinou que o estágio deveria passar de 300 para 400 horas. Isso é importante para que a formação não seja aligeirada”, diz Ana.

De acordo com informações da Câmara de Educação Básica do CNE divulgadas em 2011, o Brasil tem um déficit de 300 mil professores, nas redes estaduais e municipais. A segunda licenciatura seria uma alternativa apontada por especialistas para minimizar esse problema, mas a diretora alerta que essa pode não ser a solução. “Muitos professores trabalham em vários lugares, porém, dar mais do que 40 horas de aula é muito complicado, acaba afetando a saúde. Eles não têm tempo para preparar as aulas, para estudar... O ideal é aumentar os salários, permitindo que os profissionais possam se dedicar exclusivamente à atividade  docente", completa.

 
Globo Cidadania - 21/04/2012 05h58 - Atualizado em 29/05/2012 14h44

Fonte: redeglobo.globo.com/globoeducacao/noticia/2012/04/curso-de-licenciatura-o-desafio-de-formar-bons-professores-ontem-e-hoje.html

Acesso: 27/07/12 

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