Qualificação, respeito e melhores salários são algumas das metas a
atingir
Zero Hora, publicado em 15/10/2013.
No cinquentenário do Dia do Professor,
os representantes da profissão têm encarado uma dura missão: ensinar aos alunos
do século 21. Para vencer o desafio, é necessário inovar, algo como deixar de
ser analógico e se tornar digital, nem que para isso seja preciso se disfarçar
de princesa Fiona, como fez Maria Madalena Padilha dos Santos, uma professora
de 47 anos de Capão da Canoa.
Com 23 anos de sala de aula, Madalena
recebeu em 2013 uma turma com 36 alunos da primeira série no Instituto de
Educação Divina Providência. A tática costumeira de Madalena, de prestar
atendimento individual, praticamente naufragou. Como ensinar cada um a ler e
escrever de forma atrativa?
Clique
na imagem abaixo para conferir os desafios, as condições de trabalho e as
necessidades de qualificação para o educador ideal:
Uma das providências foi usar a
criatividade. Sob quatro pilares atrativos às crianças — comer, brincar,
animais e histórias —, foram desenvolvidos projetos com as letras do alfabeto.
O lado digital da experiência prosperou na rede social Facebook, na qual os
pais acompanham as atividades na aula com textos e fotos e interagem com
sugestões e comentários. A ideia da fantasia de Fiona foi de uma mãe, com o
objetivo de ensinar o uso dos dois erres na semana do Dia da Criança.
Professora
de Capão da Canoa se fantasiou de princesa Fiona para alfabetizar os alunos
A esta altura do ano, somente seis
integrantes da turma ainda não leem plenamente. As demais crianças estão em
"nível de terceira série", empolga-se Madalena, que trocou horas de
lazer e de convívio com a família pelo planejamento das aulas.
— O
Brasil é um dos países em que os educadores são mais desvalorizados. Isso chega
a doer porque um professor, quando faz seu trabalho com amor e paixão, move céu
e terra — afirma.
Um estudo divulgado neste mês mostra
que o Brasil é mesmo um dos países que menos valorizam o professor. Na pesquisa
da fundação Varkey GEMS, realizada em 21 nações com 21 mil pessoas no total, o
status do professor brasileiro está em penúltimo no ranking, com índice de 2.4
em uma escala de zero a cem, bem abaixo da média (37) e na frente apenas dos
israelenses. O país oferece o terceiro pior salário, melhor do que Egito e
China.
A desvalorização da profissão se
reflete nas escolas. A professora de Educação Física Darlane Lúcia Barbosa da
Silva Teixeira, 46 anos, se desdobra em três escolas. Rígida, ela impede a
prática da disciplina com vestimentas inadequadas. Aí, enfrenta reclamações.
—
Eles (os alunos) te enfrentam, te desafiam. Tem muitas barreiras para ser
professor, precisa ter vocação e muita vontade — diz Darlane.
A formação dos professores, em geral,
tem sido deficiente na aplicação da tecnologia à educação. Angela Dannemann,
diretora-executiva da Fundação Victor Civita, ressalta a formação continuada
dentro das escolas com o incentivo ao uso da tecnologia como uma forma de
avançar nessa carência. Em países com melhores índices educacionais, a formação
do professor é longa e rigorosa, parecida com a trajetória de um médico, o que
valoriza a profissão.
—
Como a gente enxerga a profissão no Brasil? Como um bico. Algo que qualquer um
pode fazer. No entanto, é uma profissão complexa, uma das mais difíceis do
mundo — argumenta a pesquisadora da USP e especialista em educação Paula
Louzano.
A boa notícia está no desejo por
mudanças expresso nos protestos de rua por melhorias na educação. Paula
salienta que os governos deveriam tomar medidas como a revisão do modelo de
ensino à distância para formar professores — que cresce muito no país — e
investir em estágios obrigatórios e residências pedagógicas. Tudo agregado,
obviamente, a um salário digno.
Exemplos bem-sucedidos na área de educação no
mundo
CHINA
Melhor
colocada em todo o mundo no Programa Internacional de Avaliação de Alunos
(Pisa, na sigla em inglês), Xangai tem liberdade para inovar e adaptar as
rígidas regras do governo chinês e oferece uma educação de qualidade
excepcional para os estudantes, inclusive os migrantes. A dedicação ao ensino é
levada tão a sério que o Estado teve de criar leis para limitar as horas de
estudo em casa. Tanto esforço tem bases históricas e culturais, principalmente
na ênfase da educação como mecanismo de ascensão social ao longo da história.
FINLÂNDIA
Professor
para entrar em sala tem, no mínimo, mestrado, e a autonomia é palavra de ordem.
No Ensino Médio, os estudantes têm direito a escolher o que querem aprender. A
carga horária não é exageradamente grande e a biblioteca é um dos passatempos
preferidos. Em média, um estudante vai 12 vezes à biblioteca ao longo de um
ano. A profissão é a mais desejada pelos jovens, mesmo sem oferecer os salários
mais altos, e aos melhores profissionais cabe a tarefa de trabalhar nas piores
escolas.
CHILE
Bons
salários, premiação por desempenho, constante avaliação do ensino e
participação da família influenciaram na nota final do Pisa. O sistema de
ensino chileno, dividido entre escolas particulares, subvencionadas e públicas,
diminuiu as diferenças entre o aprendizado dos alunos de distintas classes
sociais. No Chile, o ministro da Educação é uma das autoridades de maior
prestígio e costuma ser o nome forte para disputar as eleições presidenciais.
COREIA DO SUL
No
início da década de 60, o país asiático estava no atual patamar de
desenvolvimento do Afeganistão. Agora, aparece com uma das melhores notas no
Pisa. As escolas têm rotina de oito horas, há rigorosa disciplina e o uso da tecnologia
é aliada no aprendizado.
CANADÁ
Na
última década, o governo vem concedendo aos estrangeiros com qualificação quase
todos os direitos conquistados pelos canadenses, incluindo ensino de qualidade
para seus filhos. Essa política foi adotada como forma de compensar a carência
por profissionais especializados em função do envelhecimento da população e da
baixa taxa de natalidade. Há monitoramento e nivelamento do desempenho das
escolas, cooperação entre elas e incentivos para melhorar aquelas com baixo
rendimento. Além disso, se tornar professor no Canadá pode ser extremamente
difícil, e os salários são acima da média nacional.
Fontes: Índice Global de Status de
Professores Varkey GEMS, A Atratividade da Carreira Docente no Brasil (Fundação
Carlos Chagas), Recursos para uso de tecnologia em sala de aula (Fundação
Victor Civita)