Como fazer da Química uma disciplina
que atraia os estudantes e possa tornar-se uma das vocações dos jovens? A
procura pela profissão vem caindo em todo o mundo, não é um fenômeno que está
restrito ao Brasil. Mas, aqui a situação é cada vez mais crítica, e todos os
anos aumenta a evasão de estudantes dos Cursos de Química. Por outro lado, os
programas de pós-graduação de Química tiveram um crescimento sem precedentes
nos últimos 15 anos. Mas essa expansão começa a ficar comprometida devido ao despreparo
dos alunos que estão chegando à pós-graduação, e só não está pior porque como a
Química é interdisciplinar, os programas de pós-graduação atraem estudantes de
outros cursos. Melhorar a preparação dos estudantes e diminuir a evasão de estudantes
dos Cursos de Química é o grande desafio, e essa equação é de difícil solução.
A raiz do problema está no Ensino Médio, porque o programa de Química além de
mal ensinado se limita a memorização de fórmulas e conceitos muito complexos
para adolescentes, e a escolas sem laboratórios químicos. Do mesmo modo que é
impossível aprender a nadar longe da água, é muito difícil estimular os jovens
para o aprendizado de equações químicas sem dar a eles a oportunidade de
praticarem experimentos simples no laboratório.
O lançamento do edital n.º 31/2012 “Apoio
à Melhoria do Ensino em Escolas da Rede Pública Sediadas no Estado do Rio de
Janeiro” lançado pela FAPERJ e o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à
Docência (PIBID) da CAPES são excelentes iniciativas para melhorar o nível do
ensino médio brasileiro. Mas, é importante que os educadores da área de Química
façam desses instrumentos uma alavanca para elevar a qualidade da química no Ensino
Médio. Se nada for feito nos próximos anos, os Cursos de Química nas
universidades vão continuar recebendo estudantes mal preparados e acima de tudo
desmotivados, aumentando ainda mais os índices de evasão, e notícias como a do
estudante paulista Daniel Ariona de Andrade Hara que conquistou a medalha de
prata na 44ª na Olimpíada Internacional de Química (IChO-2012), em Washington
nos EUA, serão cada vez mais raras.
Enquanto a disciplina de Química for
negligenciada no Ensino Médio, as escolas não funcionarem em tempo integral e o
salário dos professores não corresponderem a sua importância na sociedade, os jornais
estamparão diariamente manchetes do tipo “Déficit do setor químico na balança
de pagamentos compromete o desenvolvimento brasileiro”.
A Química por ser uma disciplina fundamentalmente
experimental não pode resumir-se a memorização de fórmulas e as Tabelas
Periódicas das paredes das escolas de Ensino Médio.
Editorial
da Revista Virtual de Química, Vol. 4, n.4, p. 347, 2012.
Prof.
Dr. Ângelo Cunha Pinto, professor titular do Instituto de Química da UFRJ.
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