quarta-feira, 22 de abril de 2015

Fuga de professores


Maioria dos alunos que ingressam em licenciaturas de física, biologia, matemática e química não conclui o curso

         Ao investigar a base de dados do Censo da Educação Superior no Brasil, a pesquisadora Rachel Pereira Rabelo descobriu um dado inédito e preocupante: dos alunos que ingressaram em 2009 nos cursos de licenciatura em física, biologia, matemática e química, apenas uma minoria consegue concluir o curso. A situação mais preocupante está em física, onde somente um em cada cinco (21%) estudantes obtém o diploma. Em matemática e química, a relação é de apenas um em cada três universitários (34% em ambos os cursos). Em biologia, a taxa é de 43%.
       Os dados constam de sua dissertação de mestrado na Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE. Rachel, que é também servidora do Inep (instituto vinculado ao MEC responsável pelas avaliações e censos educacionais), conseguiu trabalhar pela primeira vez com dados longitudinais dos estudantes, ou seja, pôde acompanhar até 2013 a trajetória de uma mesma geração de alunos que ingressou nesses cursos cinco anos antes. Isso só foi possível porque, a partir de 2009, os dados do censo permitiram identificar cada universitário em todo o seu percurso acadêmico.
       Além de uma minoria de alunos conseguir se diplomar nessas licenciaturas, a tese mostra que, desses poucos que se formam, a maioria, uma vez no mercado de trabalho, acaba desistindo da profissão e migra para outras ocupações, possivelmente em busca de melhores salários.
        O olhar de Rachel para essas quatro licenciaturas se justifica porque elas estão entre as de maior déficit de professores em sala de aula. A tese mostra que somente 20% dos profissionais que dão aulas de física no país possuem formação adequada para esta disciplina. Esses percentuais são um pouco maiores nos casos de química (35%), biologia (52%) e matemática (64%).
    Outro dado que revela o tamanho do problema nessas áreas é o percentual de alunos na educação básica que não tiveram professores nessas disciplinas. Em 2013, de acordo com o Censo Escolar, um terço das turmas do ensino médio não tiveram docentes de biologia (33%), química (35%) ou física (36%) para dar aulas. Em matemática, a proporção foi de 25%.
      Ou seja, uma parcela nada desprezível de nossos jovens têm formação precária nessas disciplinas porque sequer havia professor com titulação adequada para dar aulas.
      O problema não é novo, e, nos últimos anos, o Ministério da Educação tentou combatê-lo estimulando a criação de novos cursos ou tentando atrair mais alunos para essas áreas de formação de professor, oferecendo bolsas e outros incentivos tanto para professores já em atuação, mas com formação inadequada, quanto para novos alunos que pretendem seguir a carreira docente.
     Esse esforço, até agora, tem se mostrado insuficiente para dar conta do desafio. Com base nas taxas de ingresso, conclusão, e em componentes demográficos e do mercado de trabalho, Rachel fez projeções do número de professores em sala de aula até 2028. Elas indicam que o problema é mais preocupante em física e matemática, pois, mesmo no cenário mais otimista, a estimativa é de que chegaremos em 2028 com um número menor de professores até do que o verificado hoje nessas duas áreas.
       Ao fim, a conclusão do estudo é de que seria muito mais eficiente desenvolver políticas para evitar a evasão nesses cursos do que priorizar a ampliação do número de vagas. É como se estivéssemos insistindo em colocar mais água numa banheira com vazamentos por todos os lados.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Fundação Carlos Chagas publica estudo avaliativo do Pibid


          A Fundação Carlos Chagas (FCC) publicou nessa semana um estudo avaliativo do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), que envolve cerca de 90 mil bolsistas e cinco mil escolas de educação básica, com a participação de 284 instituições de ensino superior.
          O texto destaca como diferencial no programa a concessão de bolsas não só aos estudantes de licenciatura, mas também aos professores das universidades que os orientam e a professores de escolas públicas (chamados supervisores) que acompanham as atividades dos bolsistas no espaço escolar, atuando assim como coformadores no processo de iniciação à docência, em articulação com o formador da universidade.
          O estudo faz parte da série Textos FCC, que tem como objetivo disseminar dados e achados dos estudos realizados no âmbito da Superintendência de Educação e Pesquisa da Fundação Carlos Chagas e trabalhos contemplados por prêmios conferidos pela instituição. São textos mais extensos do que artigos acadêmicos e oferecem informações detalhadas sobre os procedimentos metodológicos utilizados, de forma a subsidiar outras iniciativas de especialistas e interessados. A apresentação do texto ficou a cargo do presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães.

FCC
          A FCC é uma instituição sem fins lucrativos dedicada à avaliação de competências cognitivas e profissionais e à pesquisa na área de educação. Fundada em 1964, expandiu as atividades com a realização de exames vestibulares e concursos de seleção de profissionais para entidades privadas e públicas em todo o Brasil. A partir de 1971, com a criação do Departamento de Pesquisas Educacionais, passou a desenvolver amplo espectro de investigações interdisciplinares voltadas para a relação da educação com os problemas e perspectivas sociais do país.

Pibid
          O Pibid é uma proposta de valorização dos futuros docentes durante seu processo de formação. Tem como objetivo o aperfeiçoamento da formação de professores para a educação básica e a melhoria de qualidade da educação pública brasileira.
          O Pibid oferece bolsas de iniciação à docência aos estudantes de cursos de licenciatura que desenvolvam atividades pedagógicas em escolas da rede pública de educação básica; ao coordenador institucional que articula e implementa o programa na universidade ou instituto federal; aos coordenadores de área envolvidos na orientação aos bolsistas; e, ainda, aos docentes de escolas públicas responsáveis pela supervisão dos licenciandos. Também são repassados recursos de custeio para execução de atividades vinculadas ao projeto.
          Acesse o estudo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Professores para o bem do Brasil


Artigo da professora Vanderlan da Silva Bolzani para o Jornal da Ciência

         O dia do professor este ano tem um significado mais decisivo que os outros celebrados nos últimos anos. E por que? Estamos em plena disputa eleitoral, para a escolha do próximo presidente do Brasil. A partir de janeiro, independente de quem for eleito, o cenário impõe mudanças profundas devido ao panorama interno de dificuldades tangíveis aos olhos mas, nada que não possa ser administrado assaz, e de um quadro  internacional complexo, mas diagnosticado por vários indicadores econômicos, muito mais amenos que os últimos anos. Uma dessas mudanças passa pela excelência do sistema de educação em todos os estados da federação.
         Há 10 dias das eleições, as campanhas tomam caráter de batalha pelo voto e expõe feridas crônicas de nossa sociedade, exaltadas pelas manifestações de todo o tipo de preconceito e discriminação, evidenciando o atraso educacional e cultural do país, contido em comentários do tipo “nordestinos e pobres não  sabem votarelite brancapaulistas devem morrer de sede, e assim vão se multiplicando na mídia e redes sociais demonstrando que o país precisa de professores, muitos professores, de milhares de professores qualificados, respeitados, recompensados e felizes.
         Em momentos como o atual, celebrar o dia do professor nos leva a refletir sobre a missão de ensinar e educar neste Brasil continental. Não se constrói uma nação soberana e rica, sem um sistema educacional robusto e de excelente qualidade em todos os níveis, especialmente no ensino fundamental e médio.
         Assistimos diariamente os candidatos diagnosticarem a ineficiência do sistema de educação atual, destacando que seus planos de governo priorizarão  um novo modelo de ensino para todo o país! Resta saber se os planos e programas traçados serão de fato, colocados em prática. Considerando as eleições um instrumento maravilhoso da prática democrática de uma nação, os avanços educacionais já alcançados com a eleição de 6 presidentes após o térmico do regime militar, é ainda muito tímido e insuficiente para o salto qualitativo que almejamos para o nosso “gigante adormecido em berço esplêndido”!
         A melhor forma de comemorar o Dia do Professor é ampliando a discussão sobre a valorização profissional e o reconhecimento do trabalho de educadores mal remunerados, desestimulados e sem grandes perspectivas de melhoria da carreira em curto e médio prazo.  Essa tarefa não é, seguramente, algo abstrato e impreciso. Ela passa concretamente pela discussão das grades curriculares, da diminuição cada dias maior do número de jovens que optam pela profissão, pela análise das condições de trabalho, e pela identificação da devida importância que o professor tem nas “ditas sociedades do conhecimento” e assim, para o que se espera ser também da sociedade brasileira.
         Finalizado o processo de eleições democráticas, o novo presidente iniciará as mudanças dos planos de governo e por que não iniciar pela melhoria do ensino nacional e na valorização da atividade docente?
         Talvez o momento seja propício à geração de novas ideias, ao exercício de alguma ousadia, com base na larga experiência que os professores têm da realidade das salas de aula e dos laboratórios. Finalizando esta nota, reverencio  todos os mestres pelo seu dia. Que esta mensagem seja mensageira de entusiasmo e de esperança a todos os professores do Brasil que lutam por um país mais humano e igualitário. Que o dia de hoje seja então um dia de reflexão sobre o papel deste profissional na construção de um país digno e soberano.

Vanderlan da Silva Bolzani (Professora Titular do IQ-UNESP, Diretora da AUIN-UNESP e Conselheira da SBPC)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Química: como te quero!



Carta aberta à atriz Denise Fraga
Prezada atriz Denise Fraga:
          Cientista, pesquisador e professor universitário há 16 anos, no curso de graduação e pós-graduação em Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sou ciente que o fascínio e influência que causamos (nós, professores) nos alunos são fatores adicionais na responsabilidade sobre o que, como e quando externamos opiniões pessoais em salas de aula. Para uma plateia formada por estudantes que se prepararam para fazer da Química sua profissão, e que portanto têm esta linda ciência como uma paixão, deslizes por parte daqueles que lhe são exemplos podem causar estragos indeléveis no futuro. Não me vejo, por exemplo, me permitindo usar um espaço nobre como o púlpito de uma sala de aula para bradar aos meus alunos de Química tais considerações: meu filho vai mal em artes. Meu outro filho também vai mal em artes. Eu fui mal em artes. Me perdoem os artistas, mas alguém poderia me dizer porque ainda se estuda artes nas escolas?
          De tão absurdo e distante daquilo que acredito, sinto vergonha em ter somente escrito esta barbaridade aí acima. Pois troque a palavra “artes” pela palavra “química”, e a palavra “artistas” pela palavra “químicos”, e teremos o início do texto pulicado na Folha de São Paulo por você, artista Denise Fraga, em sua coluna de 03/08/2014. Mais do que um púlpito em sala de aula, você usou um espaço nobre destinado a poucos (uma coluna bissemanal em um dos jornais mais lidos do país) para, baseado na sua experiência familiar (um filho, outro filho e você mesma), colocar dúvida sobre a necessidade do ensino de química.
          Minha cara artista, permita-me educadamente discordar de suas opiniões. Ensina-se Química porque a Química é um dos pilares do conhecimento científico, e portanto, do conhecimento humano. Ensina-se Química porque o ser humano se diferencia dos outros animais pela capacidade de pensar, e o aprendizado (qualquer um) é um dos motores do fazer pensar. Ensina-se química para que todos os cidadãos possam ter o mínimo de compreensão sobre os fenômenos cotidianos e as coisas que os rodeiam (você mesmo disse que “tudo tem química”). Ensina-se Química porque o país precisa de cientistas. Como precisa de artistas. Como precisa de engenheiros. O desenvolvimento científico é um dos motores para alavancar a economia e soberania de uma nação. Ensina-se Química pelo mesmo motivo que se ensina matemática, história, línguas, geografia, e todos os outros conteúdos, no seu devido tempo, no seu devido momento: a química faz parte da cultura geral. E também se ensina química para que alguns, no momento certo de escolher o que querem continuar estudando, possam optar por viver de Química (meu caso), e que outros, neste mesmo momento, possam optar para nunca mais lembrar que ela existe (aparentemente o seu caso). E para que aqueles que optam por viver de Química possam produzir, para todos, novos fármacos para curar e prevenir doenças; novos materiais para melhorar habitação, vestuário, transporte; novos processos de descontaminação de águas, solo e atmosfera; novos materiais para tornar potável a água salobra; novas próteses para aumentar o conforto de amputados; pele artificial, sangue artificial, órgãos artificiais, para continuar a vida de desenganados; novas alternativas para produzir mais alimentos; novas maneiras de gerar energia limpa; novos biocombustíveis; novos artigos de higiene; novos cosméticos; novas tecnologias para produção de equipamentos menores e mais sofisticados, que permitem, como mencionastes em seu texto, buscar informações no bolso a um clique dos dedos. É isso tudo que nós, químicos, estamos fazendo, sem pedir créditos ou aplausos – daí, talvez, a sensação de que o ensino de química não é necessário.
          A química é absolutamente encantadora. Uma ciência que está de braços eternamente abertos a quem se dispuser a tentar compreendê-la. Uma fonte inesgotável de inspiração e de beleza, que vem caminhando lado a lado com a evolução da humanidade, fornecendo respostas e alternativas a seus questionamentos. Não é nenhum exagero afirmar que a química esteve presente, como atriz principal, em todos os grandes acontecimentos da história, desde o Big Bang – responsável pela criação do Universo -, passando pela formação das galáxias e planetas, pelo início da vida na Terra, pelo processo evolutivo que nos trouxe até aqui, e por todas (e absolutamente todas) as intervenções que a espécie humana realiza e vem realizando no planeta que lhe deu origem.
          Será que estes motivos não são suficientes para permitir que as novas gerações sejam presenteadas com seu aprendizado? Mas além desta ciência fascinante, a química corresponde a um dos maiores motores da economia mundial. No Brasil, o faturamento da indústria química no ano de 2012 foi de R$ 293 bilhões, um crescimento de 12,4% sobre o faturamento do ano anterior, que corresponde a 2,5% do PIB brasileiro (9,9% do PIB das indústrias de transformação), e que a coloca em sexto lugar no faturamento das indústrias químicas do mundo (atrás de China, EUA, Japão, Alemanha e Coréia, nesta ordem).
          Será que a indignação no seu texto, Denise, não deveria, na verdade, estar direcionada à “maneira” pela qual alguns conteúdos são ensinados (decorar tabela periódica, platelmintos, etc)? O grande debate que devemos abraçar é qual a escola que temos, e qual escola queremos ter. Por que se ensina como se ensina? Estas são questões fundamentais, que precisam urgentemente ser colocadas em pauta. Com relação ao ensino de química, há profissionais maravilhosos espalhados Brasil afora que se preocupam em como ensinar, e muitos outros profissionais maravilhosos que ensinam como se deve. Há ações primorosas sendo realizadas na área de ensino e educação em Química no país, capitaneadas por universidades e instituições como a Sociedade Brasileira de Química, dentre outras. Discutir a escola que queremos e que precisamos é função de educadores, políticos, pais e cidadãos preocupados com o futuro desta nação. E é uma tarefa que exige empenho e dedicação, e que infelizmente não encontra espaço nas agendas cada vez mais abarrotadas dos nossos cidadãos, principalmente os mais esclarecidos e que têm algum tipo de palanque.
          Minha cara Denise Fraga, seu talento inquestionável lhe permitiu adotar a arte como profissão. Sorte a nossa, enquanto plateia, que temos o privilégio de contarmos com suas atuações. A mim em particular, que fiz teatro amador na escola durante o ensino médio, e que arranho um violão sem-vergonha nos finais de semana, a arte que você representa é como o ar que respiro. Choro ou gargalho em cinemas e teatros, me emociono ao limite em espetáculos musicais, e passo praticamente todos os finais de semana em museus – práticas que tento diariamente transmitir à minha pequena filha.
          Agradeço todos os dias aos meus pais e aos professores que tive no ensino fundamental e médio (em escola pública, diga-se de passagem, em Matão-SP), cujas ações corretas me fizeram gostar do saber (independente da área), e me tornaram um químico que sabe apreciar as delícias do conhecimento e da cultura. Respeito sua opinião de que o ensino de química não é necessário, assim como respeito a opinião de inúmeras pessoas que não veem necessidade em ir ao teatro, museu ou espetáculos musicais. Lamento profundamente ambos os casos, e luto diariamente para convencer, com argumentos, que são posturas redondamente equivocadas.
Aldo José Gorgatti Zarbin é Professor/Pesquisador do Departamento de Química da UFPR e presidente-sucessor da Sociedade Brasileira de Química (SBQ).
JC Notícias, quinta-feira, 21 de agosto de 2014.


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Pesquisa mostra que alunos perdem um dia de aula por semana devido a má gestão no ensino público


No Brasil, 27% do tempo em sala é dedicado a organização da turma e 9%, a atividades não escolares

          O mau gerenciamento das salas de aula das escolas públicas no Brasil faz com que os estudantes percam o equivalente a um dia inteiro de ensino por semana. O dado é do novo relatório "Professores excelentes: como melhorar a aprendizagem dos estudantes na América Latina e no Caribe", divulgado pelo Banco Mundial.
          Ao observar mais de 15 mil salas de aula de três mil escolas em sete países latino-americanos, pesquisadores detectaram problemas relacionados às relações cotidianas entre alunos e educadores - falta de liderança, perda de tempo letivo com assuntos extracurriculares -, além de baixo padrão de formação de professores, ausência de planos de carreira, baixos salários e falhas nas avaliações de desempenho. Tudo isso, somado, explicaria o desempenho ruim dos alunos nas avaliações internacionais.
- A observação das salas de aula no Brasil mostrou que 64% do tempo são direcionados a atividades acadêmicas; 27%, à organização da sala de aula; e 9%, a atividades que não competem ao ensino. O padrão para um bom gerenciamento seria com 90% direcionados às práticas pedagógicas, e 10%, para a organização sala - afirma Barbara Burns, uma das coordenadoras da pesquisa.

Docente bom, aluno adiantado
          O levantamento demonstrou que alunos com os melhores docentes conseguem superar em até 50% o conteúdo previsto para uma determinada série, antecipando tópicos da seguinte. Já nas escolas com os piores professores, a turma chega ao fim do ano letivo com menos da metade do conteúdo planejado.
          A pesquisa também revelou que o desempenho escolar dos estudantes influencia na economia do país. O relatório expõe que, se o México aumentasse o rendimento médio de seus estudantes no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) até o nível da Alemanha, seu produto interno bruto (PIB) teria um incremento de dois pontos percentuais.
- É difícil pensar em um elemento mais importante para ampliar as oportunidades para todos os latino-americanos do que a qualidade da educação - afirma Jorge Familiar, vice-presidente do Banco Mundial para a região.
          O Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe) afirma que o Estado não fornece condições para a atuação do professor, e isso é refletido em sala de aula.
- É inviável um bom rendimento sem formação continuada e com remuneração baixa. O que acontece na sala de aula é um reflexo da falta de estrutura. O professor está entregue a sua própria sorte - afirma Samantha Lopes Maciel, coordenadora-geral do sindicato, que ficou espantada com o índice de "perda de tempo" em sala, mas o vê como um problema de planejamento. - É necessário que o professor tenha um momento na sua carga horária para reunião e planejamento. Quando não existe, isso impacta na relação com os alunos.

          O relatório demonstra a falta de incentivo salarial. O nível de remuneração mensal em 2010, na América Latina, era entre 10% a 50% mais baixo do que a verificada em outras carreiras equivalentes. Essa relação se mantém desde 2000.

Revisão curricular é necessária
          Para o presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, Moacir Feitosa, há uma deficiência na formação, que deveria ser bem mais completa.
- Do ponto de vista acadêmico, os currículos deveriam ser mais plenos. Falta uma atenção mais intensiva aos objetivos de cada série. A distribuição do tempo fica prejudicada quando se dá atenção a várias demandas e se perde o foco na questão central. Por isso, é necessário revisarmos o currículo para cada segmento - afirma Moacir.
          A atenção mais direcionada é um dos pontos do relatório que demonstram como simples práticas podem gerar resultados.
- Durante a observação, vimos professores que faziam coisas simples como comentar o dever de casa. Quando cruzamos com os resultados daquela turma em exames, vimos que há uma correlação positiva - afirma Barbara, que enfatiza a necessidade de investimento: - Obviamente, o professor precisa ter condições de trabalho para atuar.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Manifestação da Sociedade Brasileira de Química


Texto é em resposta à coluna de Denise Fraga publicada em 3/8/2014 na Folha de São Paulo.

          A Sociedade Brasileira de Química (SBQ), por meio de sua Diretoria e Conselho, manifesta-se em resposta à coluna de Denise Fraga (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/denisefraga/2014/08/1494462-quimica-pra-que-te-quero.shtml), da Folha de São Paulo, do dia 3/8/2014, intitulada “Química, pra que te quero?”, com o objetivo de esclarecer os leitores da Folha e contribuir, como sempre tem feito, para melhorar a educação no Brasil.
          Como ponto central está o porquê de se ensinar Química nas escolas. Estudantes devem ser introduzidos às Ciências, como a Química, e ao método científico o mais cedo possível. Isso lhes dá uma compreensão de fatos fundamentais para se tornarem cidadãos capazes de compreenderem o mundo ao seu redor. A Química não interessa apenas aos que amam esta Ciência: ela nos acompanha em cada momento e lugar de nossas vidas, desde o nascer até o pôr do sol, desde o sabonete e a pasta de dentes até as roupas, o analgésico e o automóvel. Crianças e adolescentes aprendem Química para se tornarem cidadãos capazes de tomarem decisões informadas. Eliminar o ensino de Química os torna presas fáceis de exploradores de todos os tipos, o que infelizmente presenciamos a cada dia no comportamento dos que decidiram ignorar as ciências.
          O texto de Denise Fraga tem uma única virtude, que é ilustrar (mais uma vez) a péssima qualidade do ensino no Brasil, principalmente nas escolas públicas, tão carentes de infraestrutura e de professores mais bem preparados para a arte de ensinar.
          A Sociedade Brasileira de Química tem trabalhado incansavelmente, desde a sua fundação, em 1977, para o desenvolvimento e fortalecimento da Química em todos os seus aspectos. Em um episódio recente, tivemos mais de um milhão de jovens brasileiros participando de um experimento sobre a qualidade da água dos rios e mananciais, com manifestações emocionantes de estudantes e de professores aplicados. Temos uma revista para professores e um site com materiais para estudantes e professores, com centenas de milhares de acessos a cada ano. Infelizmente, ainda é muito menos que o necessário, mas contamos que esta coluna de Denise Fraga contribuirá para que cada vez mais pessoas se empenhem pelo ensino e aprendizagem da Química, para o bem de todos.
(SBQ)

Jornal da Ciência, quinta-feira, 14 de agosto de 2014.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

MEC inicia construção de currículo nacional


          O Ministério da Educação (MEC) deu na última quinta-feira, 03/07/2014, o pontapé inicial para a construção da chamada Base Nacional Comum da Educação Básica, que prevê o que os estudantes brasileiros devem aprender a cada etapa escolar. Previsto na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), esse dispositivo nunca foi elaborado. É tido por especialistas como fundamental para avanço educacional e na garantia da qualidade do ensino.
          A Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC recebe nesta quinta um documento que será o "desencadeador" do debate nacional sobre o tema. O texto foi coordenado pela ex-diretora de currículos e educação integral da pasta, Jacqueline Moll. "Estamos propondo uma discussão em regime de colaboração onde estejam presentes o MEC na condução, secretarias e uma participação mais ampla possível", disse ao Estado a titular da SEB, secretária Maria Beatriz Luce. "O MEC está aberto a construir conjuntamente se a Base Nacional será menos ou mais detalhada."
          Depois do longo processo de discussão do Plano Nacional de Educação (PNE), sancionado no mês passado pela presidente Dilma Rousseff (PT), esse deve ser o debate que vai mobilizar o setor talvez nos próximos anos. A criação de uma base nacional sempre esteve acompanhada de resistência de setores de pesquisadores, que temem um engessamento da autonomia do professor. O respeito a diferenças regionais também é temido.
          Além de definir com mais clareza o que se espera que os alunos aprendam nas determinadas fases escolares, a Base Nacional ainda guiará o processo de avaliação e da própria formação de professores. Hoje, as diretrizes da Prova Brasil (avaliação federal da educação básica) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) servem de indutores dos currículos municipais e estaduais, mas são considerados genéricos.
          A articulação em torno do tema conta com a participação da União de Dirigentes Municipais e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e também do Conselho Nacional de Educação (CNE). "O compromisso com o CNE é que o MEC coloque o documento para a apreciação online, e todo o País envie sugestões. Isso deve acontecer até o final de agosto", disse Rosa Neide Soares, representante do Consed.
          Um grupo de mais de 50 especialistas e entidades também conversam há mais de um ano sobre o assunto, reunindo evidências internacionais e agrupando interessados. "A gente tem se dedicado muito a levantar evidências, mobilizar e colocar o tema em voga", disse Alice Ribeiro, secretária executiva do projeto de construção de uma Base Nacional Comum da Educação. "Cada escola vai aperfeiçoar de acordo com sua realidade", afirmou a ex-secretária de Educação Básica do MEC Maria do Pilar Lacerda.
(Paulo Saldaña e Victor Vieira/ O Estado de S. Paulo).