quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Sete educadores brasileiros fundamentais para compreender a educação integral


Pautados por uma concepção de justiça e democracia, foram muitas as mentes que pensaram e discutiram caminhos para a educação no Brasil, mas algumas se destacaram pela riqueza da obra e contribuições às políticas educacionais no País

“A educação integral não é uma modalidade; é um novo paradigma”. Presente na literatura e no pensamento acadêmico mundial, o conceito de uma formação integral – que leva em conta não apenas o componente acadêmico, mas o pleno desenvolvimento dos educandos – está presente na história contemporânea da educação brasileira com muita força. Educadores brasileiros foram peças fundamentais para a construção desse entendimento e foram e ainda são referência nacional e internacional no debate, demarcando o direito à educação como estruturante das bases para a conquista de um país justo, solidário e democrático.
Pautados por uma concepção de justiça e democracia, foram muitas as mentes que pensaram e discutiram caminhos para a educação no Brasil, mas algumas se destacaram pela riqueza da obra e contribuições às políticas educacionais no País. Sem a pretensão de esgotar o tema, o Centro de Referências em Educação Integral resgata sete educadores, apresentando – ainda que brevemente – algumas de suas marcas e posicionamentos para o debate contemporâneo da educação integral.
Confira:
Principal referência sobre o tema, o educador baiano Anísio Teixeira (1900-1971) é considerado um dos mais importantes defensores do direito à educação no Brasil. Para ele, a escola era um espaço de exercício da democracia e principal instituição republicana, tendo como função a de garantir o pensamento autônomo e livre dos estudantes a fim de prepará-los para construir a sociedade desejada.
Autor de mais de dez livros, Anísio foi o criador da primeira experiência bem sucedida de educação integral no Brasil, com a criação do Centro Educacional Carneiro Ribeiro.
Foi também o idealizador das Escolas Parque, e criador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (Capes) e um dos fundadores da Universidade de Brasília (UNB).
Anísio esteve ainda entre os 26 autores do Manifesto Pioneiros da Educação Nova, publicado em 1932 como fruto da discussão do Movimento Escolanovista, que discutia que a educação deveria garantir a formação ampla dos estudantes e que todos da sociedade são corresponsáveis pela escola.

Influenciado pelas ideias do Movimento Escolanovista, e muito próximo de Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro (1922 – 1997), foi um dos  principais antropólogos e pensadores da educação no país. Além de seu envolvimento com a questão indianista no país, Darcy atuou fortemente pela defesa da escola pública e da atenção ao desenvolvimento integral dos estudantes.
Foi Ministro da Educação, e depois Chefe da Casa Civil no governo João Goulart, deposto pelo golpe civil-militar em 1964. Durante o período ditatorial, teve seus direitos cassados e foi forçado a se exilar do país, época em que contribuiu com reformas e discussões educacionais em diferentes países. De volta ao Brasil, Darcy implementou junto ao Governo Leonel Brizola no estado do Rio de Janeiro, os Centros Integrados de Ensino Público (CIEPs), uma das principais políticas de educação integral no país, e que trouxe à tona a necessidade de integrar as políticas de assistência às ações educacionais.
Autor de inúmeros livros, e membro da Academia Brasileira de Letras, Darcy também foi o primeiro  reitor da Universidade de Brasília (UNB), e criador da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), que tinha como projeto formações interdisciplinares, em proposta considerada bastante disruptiva para o cenário do ensino superior no país.
Para ler mais: Fundação Darcy Ribeiro

Provavelmente um dos mais importantes pensadores da história do Brasil, o professor pernambucano Paulo Freire (1921-1997) defendia transformações radicais para a educação brasileira. Entre suas inúmeras contribuições, estava a da necessidade de valorizar o conhecimento popular, integrando-o à pedagogia. Defensor incansável de um ideário democrático, Freire acreditava que a educação era a maior das armas contra a opressão, e que a autonomia dos educandos deveria ser a principal conquista do fazer educativo. Para ele não existe ensino sem aprendizagem, em uma relação interdependente, de profundo respeito do educador pelo educando. Leia também: Paulo Freire em seu devido lugar
Entre as suas várias contribuições à educação, Freire desenvolveu um método de alfabetização de adultos, baseado no contexto de vida dos educandos, evocando um princípio muito caro à educação integral – de vínculo e atenção ao território e às identidades dos sujeitos.
Além de sua vasta obra, Freire foi secretário municipal de Educação em São Paulo, quando coordenou a implementação do Estatuto do Magistério, discutiu amplamente o direito dos profissionais da educação, apoiou amplamente as discussões sobre gestão democrática e lutou arduamente pelo direito irrestrito à educação pública para todos. O educador recebeu ainda o título de doutor Honoris Causa por vinte e sete universidades, e inúmeros prêmios internacionais e nacionais. Em 2012, foi declarado Patrono da Educação Brasileira.
Para saber mais: Instituto Paulo Freire

A pedagoga Maria Nilde Mascellani (1931 – 1999), educadora em diferentes escolas públicas do estado de São Paulo, foi uma das idealizadoras das Classes Experimentais, proposta de educação que visava fortalecer a autonomia dos educandos e seu envolvimento na gestão escolar. Pouco tempo antes do Golpe civil-militar, a professora assumiu a coordenação do Serviço de Ensino Vocacional, que tinha como objetivo disseminar e ampliar a experiência das classes experimentais por meio dos Ginásios Vocacionais.
Sofrendo inúmeras pressões da ditadura, Maria Nilde resistiu, insistindo na proposta libertária de educação e defendeu arduamente os ideais de uma escola pública autônoma. Foi presa e torturada pelo Departamento de Ordem Política e Social (DEOPS), indiciada como subversiva, e destituída de suas funções. De volta à liberdade, Maria Nilde, que publicou inúmeros trabalhos e textos, criou um centro educacional na Psicologia da PUC-SP, onde foi também foi professora.

Considerado um dos sociólogos mais influentes no Brasil, Florestan Fernandes (1920-1995), teceu considerações muito importantes para o debate da educação integral no país, além de ter sido, como professor, um educador considerado exemplar – acompanhando, de perto e com atenção irrestrita, todos que foram seus alunos. Como ideia central em seu pensamento, a educação tem a capacidade de transformar a sociedade, e a escola seria a instituição prioritária de fortalecimento do que ele chamava de cultura cívica, a atenção ao interesse comum, àquilo que é público.
Florestan defendia que democracia era a liberdade de educar e o direito irrestrito de estudar, e foi árduo debatedor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), aprovada pouco tempo depois de sua morte e que anuncia o direito à educação integral. Defensor das ideias do amigo Darcy Ribeiro, o sociólogo pontuava sempre a importância de se enfrentar as heranças coloniais e escravocratas do país, com o combate ao racismo e todas as formas de exclusão e opressão e da construção de um projeto de educação para todos com equidade no país.
Ativo na luta pela escola pública, foi um dos principais advogados pelo Piso Salarial dos Professores, pela Eleição de Diretores pela comunidade escolar, incluindo estudantes e familiares e pelos mecanismos de gestão democrática e participativa nas instituições educativas.

Cientista social e pesquisador em educação, o professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Miguel Arroyo, é um dos maiores defensores da educação integral nas políticas educacionais brasileiras. Entusiasta de uma proposta de educação popular, Arroyo pesquisa e debate a necessidade de se valorizar a cultura e as iniciativas dos movimentos populares na construção dos projetos políticos pedagógicos das escolas.
Defensor da gestão democrática e da ampla participação dos estudantes e comunidades, Arroyo critica o modelo enciclopédico do currículo, e discute a importância de uma pedagogia ligada à vida e aos interesses e necessidades dos alunos. O professor defende ainda que o papel da escola é o de devolver à pessoa a humanidade que lhe foi negada; recuperando a dignidade e articulando uma pluralidade de forças e instituições para garantir a plena integração e participação social de todas as pessoas.
Além de seu papel como professor e pesquisador, Arroyo, que é autor de vários livros e trabalhos, atuou como secretário ajunto de educação em Belo Horizonte (MG), em projeto pioneiro que alavancou as bases para o programa Escola Integrada, uma das principais políticas de educação integral no país.
Para saber mais: Educação e Participação

A professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e diretora de Currículos e Educação Integral da Secretaria de Educação Básica no MEC de 2007 a 2013, Jaqueline Moll é uma das principais referências no Brasil sobre a temática da educação integral. Ávida defensora do direito ao desenvolvimento integral, e da integração das escolas aos seus territórios, Jaqueline foi responsável pela criação e implementação do programa Mais Educação.
Para ela, a escola não pode ser um simulacro da vida real, e, portanto a educação deve ser pensada na perspectiva do território, ampliando as interações dos estudantes, e as oportunidades a eles ofertadas. Para tanto, Jaqueline convoca a perspectiva das Cidades Educadoras, em que equipamentos da saúde, da cultura, do meio ambiente se integram a fim de fortalecer o desenvolvimento dos sujeitos em todas suas dimensões e viabilizar a participação de todos em todas as esferas da sociedade.
Autora de vários livros e pesquisadora atuante, a professora defende a necessidade de projetos educativos locais, em que escolas tornam-se coautoras das políticas educacionais, trazendo o repertório, as características e as necessidades dos sujeitos e de suas comunidades para o centro do projeto pedagógico.
Para saber mais: Conceitos e pressupostos: O que queremos dizer quando falamos de educação integral?

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