ARNALDO
NISKIER
TendênciAs/Debates,
folha de são paulo, 19/09/2016.
Pesquisas recentes demonstram que a
habilidade de ensinar não é inata. Assim como treinadores ajudam atletas a
melhorar em suas modalidades, professores também podem ter suas vocações
aprimoradas.
Sabe-se que o segredo para notas
excelentes e estudantes bem-sucedidos não são os colégios elegantes, turmas
pequenas ou equipamentos mirabolantes. São os professores. É a principal
conclusão da reportagem publicada na revista "The Economist", de 11
de junho de 2016.
No mundo todo, poucos professores são
suficientemente bem preparados. Em países pobres, muitos recebem pouco
treinamento. Em países ricos, o problema é mais sutil. Os professores se
qualificam, seguindo um curso longo que, normalmente, envolve discussões rasas
sobre diversas teorias.
Alguns desses cursos, inclusive
mestrados em educação, não têm nenhum efeito sobre quão bem os alunos dos seus
graduados acabam sendo ensinados. As escolas negligenciam os seus alunos mais
importantes: os próprios professores.
É preciso aprender como transmitir
conhecimento e preparar jovens mentes para recebê-lo. Bons professores definem
objetivos claros, aplicam padrões altos de comportamento e administram o tempo
em sala de aula com sabedoria.
Usam técnicas comprovadas de ensino
para garantir que todas as cabeças estejam funcionando todo o tempo -como, por
exemplo, fazer perguntas na sala de aula, escolhendo o aluno que irá responder,
em vez de perguntar e esperar uma resposta, o que sempre leva a ter os mesmos
alunos ansiosos levantando as mãos.
A aplicação dessas técnicas é mais
fácil em teoria do que na prática. Com o ensino, o caminho para a maestria não
é uma teoria confusa, mas sim uma intensa prática orientada, baseada no
conhecimento do assunto e métodos pedagógicos.
Os estagiários deveriam ficar mais
tempo em sala de aula. Os países onde os alunos têm o melhor desempenho fazem
professores inexperientes passar por um aprendizado exigente.
Na América, as escolas com alto
desempenho ensinam os estagiários em sala. Acertar nos incentivos também ajuda.
Em Xangai, os professores ensinam somente de 10 a 12 horas por semana, menos
que metade da média americana de 27 horas.
Estudos recentes da Universidade
Harvard destacam o poder do bom ensino. Mas uma pergunta persegue os criadores
de políticas: "Bons professores nascem bons ou se tornam bons?".
Preconceitos na cultura popular sugerem a última opção. Professores ruins são
vistos como pessoas preguiçosas que odeiam crianças.
Edna Krabappel, de desenho "Os
Simpsons", trata as aulas como obstáculos para chegar aos intervalos. Enquanto
isso, professores bons e inspiradores são vistos como pessoas dotadas de dons
sobrenaturais.
Em 2011, um levantamento sobre atitudes
em relação à educação verificou que essas visões indicam a crença das pessoas:
70% dos americanos acreditavam que a habilidade de ensinar resultava mais de
talento inato que de treinamento.
As instituições que preparam
professores precisam ser mais rigorosas. Mudanças nos sistemas escolares são
irrelevantes se não mudarem como e o que as crianças aprendem. Para isso, importa
o que os professores fazem e acham. A resposta, afinal, está na sala de aula.
ARNALDO NISKIER, 80, é membro da ABL - Academia
Brasileira de Letras e presidente do CIEE - Centro de Integração Empresa-Escola
no Rio de Janeiro.
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