Vanderlan da S. Bolzani, professora titular do
IQAr, Unesp, vice-presidente da SBPC, escreve para o Jornal da Ciência
Como aproveitar melhor a data de 15 de
outubro, dia dos professores? Sem dúvida saudando essa categoria, da qual
orgulhosamente faço parte, e destacando o papel dos profissionais que têm a
grande responsabilidade de formar as novas gerações de brasileiros.
Podemos também aproveitar a data para
levantar algumas questões que sempre foram importantes, mas, nesta quadra da
vida do País, merecem atenção especial em razão da gravidade do momento,
marcado pela crise econômica e pelas decisões políticas, em particular a PEC
241.
É possível notar que as muitas mudanças
ocorridas nos últimos anos alteraram pouco a forma como a sociedade como um
todo vê o professor. Baseada na convivência com o mundo acadêmico, e na
observação do cotidiano, tenho impressão que nos últimos 30 anos, essa visão
não sofreu grandes alterações. Isto é, embora, durante certo período, o País
tenha crescido e conquistado melhores indicadores em várias áreas – está entre
as dez maiores economias do mundo; saiu do “mapa da fome”; melhorou seus índices
de alfabetização; melhorou sua produção científica – a valorização do professor
não avançou. Quando essa valorização existe, com frequência ela se cristaliza
no estereótipo romântico do professor “dedicado” e “altruísta” que se sacrifica
por seus alunos. E não do profissional que, com bons ou maus salários, com
tempo ou sem tempo, precisa se reciclar continuamente em um mundo complexo e
desafiante que cria conhecimento novo e gera inovações a cada dia.
Se a premissa está correta, se essa
valorização não avançou, seria então o caso de perguntarmos por que. Parte da
resposta talvez esteja na forma como, historicamente, o País e os governos
trataram o tópico educação, ao sabor das contingências do momento e como moeda
de troca dos interesses políticos. Mas isso, em pleno século XXI, não nos exime
da questão central. Como criar uma cultura de valorização da educação e do
professor? Quem deve realizar essa tarefa? Não há dúvida que os primeiros
agentes dessa mobilização devem ser os próprios professores. Trata-se de uma
tarefa que requer sensibilidade e muita organização. Mas que está vinculada
também à capacidade de influenciar e participar das definições políticas.
Hoje, mais uma vez, estamos diante de
uma contingência política em que os governantes decidiram estabelecer um teto,
por vinte anos, para vários tipos de gastos, entre eles, os da educação. É
preciso “arrumar a casa”, dizem.
É hora de discutir amplamente com a
comunidade de professores e analisar como ficará “essa casa arrumada” do ponto
de vista da qualidade da educação que o País deseja para seus jovens, da
valorização do ensino fundamental e médio e dos educadores. É necessário deixar
claro quais serão as consequências para as várias políticas em curso, como o
Plano Nacional de Educação e o que poderá acontecer em médio e longo prazo. O
que poderá acontecer com a pesquisa científica e a inovação sem os
investimentos necessários para gerar conhecimentos que resultem em avanços
econômicos e sociais. Participar dessa discussão parece ser urgente e essencial
para qualquer projeto que objetive avanços engrenados de educação, ciência,
tecnologia e inovação para um país continental, cheio de dissimetrias. Obviamente,
o primeiro passo dessa engrenagem visando uma nação instruída, educada e
socialmente bem sucedida passa pela valorização do ensino e do professor.
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