Editorial
publicado no Estado de São Paulo em 04/03/2014.
Divulgado
pelo Ministério da Educação (MEC), o Censo da Educação Básica apresenta duas
informações importantes. Uma, positiva, é o crescimento de vagas de tempo
integral - em que os alunos passam mais de sete horas na escola - no ensino
fundamental. Entre 2010 e 2013, o aumento foi de 139%, passando de 1,3 milhão
para 3,1 milhões. Desse total, 3,07 milhões são na rede pública e as 930 mil
vagas restantes são na rede privada. Os estudantes nas escolas de tempo
integral representam 11% do alunado do ensino fundamental.
A
outra informação, negativa, é o agravamento da crise do ensino médio, que tem
8,3 milhões de estudantes. Esse ciclo de ensino, que se encontrava estagnado,
segundo o último Censo da Educação Básica, agora perde alunos. Em 2013, foram
64 mil matrículas a menos do que em 2012. Considerados os adolescentes e os
jovens na faixa etária de 15 a 17 anos, que constituem o público-alvo desse nível
de ensino, 15,8% estavam sem estudar em 2012. E, dos 84,2% que estavam numa
escola, no final daquele ano, uma parte significativa ainda frequentava turmas
de ensino fundamental. Ou seja, estavam com formação defasada.
Com
um currículo anacrônico e desvinculado da realidade social e econômica do País,
quando comparado aos programas do ensino fundamental e superior, o ensino médio
é hoje o principal gargalo do sistema educacional. Além da falta de qualidade,
esse ciclo de ensino vive uma crise de identidade, uma vez que não prepara os
estudantes nem para os exames vestibulares nem para o mercado de trabalho.
Por
isso, o desinteresse dos alunos e as taxas de evasão - principalmente na rede
pública - estão deixando as autoridades educacionais apreensivas. Segundo o
Censo da Educação Básica, só na primeira das três séries do ensino médio cerca
de 30% dos alunos abandonam a escola ou são reprovados. Para tentar contornar o
problema e atrair alunos, o MEC estendeu para o ensino médio ações antes
circunscritas apenas ao ensino fundamental, como fornecimento de merenda,
transporte escolar e livros didáticos. Para estimular os governos estaduais a
modernizar a rede pública de ensino médio, o governo também aumentou os
repasses federais para as Secretarias da Educação que apresentarem projetos
inovadores, substituindo a divisão do currículo em disciplinas tradicionais,
como português e matemática, por programas flexíveis e currículos
diferenciados, que incluem ciência, tecnologia, cultura e trabalho. Os números
do Censo mostram que essas providências não deram o retorno esperado pelas
autoridades educacionais.
Para
tornar a escola mais atrativa para os jovens e oferecer uma alternativa ao
ensino médio tradicional, o governo vem investindo na expansão do ensino
técnico de nível médio, que entre 2010 e 2013 registrou um aumento de 84% no
número de matrículas. O avanço é positivo. Mas, como muitas escolas técnicas
foram inauguradas às pressas, por razões eleitorais, carecendo de professores
em número suficiente e laboratórios equipados, a expansão desse tipo de ensino
- que tem um total de 1,4 milhão de estudantes - estaria sendo feita em
detrimento da qualidade, advertem os especialistas.
Segundo
o Censo, há 50 milhões de alunos matriculados no ensino básico. Desse total,
46% estudam nas redes públicas municipais; 36%, nas redes públicas estaduais;
17%, na rede particular; e o restante, nas escolas técnicas. O Censo também
mostra que o número de matrículas nesse nível de ensino está caindo - só entre
2012 e 2013, as escolas perderam 500 mil alunos. A redução é atribuída pelo MEC
à queda da taxa de natalidade, por um lado, e ao aumento das taxas de aprovação
e à melhoria do fluxo escolar, por outro.
O
Censo da Educação Básica não avalia a qualidade do ensino, que é medida pelo
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). O Censo é apenas um
retrato estatístico desse nível de ensino. Com base em seus números, o MEC pode
estabelecer prioridades e formular políticas para melhorar esse ciclo de
ensino.
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