Ministro da Educação, Aloísio Mercadante, fala em adotar a lógica das
quatro grandes áreas do Enem na grade curricular. A reportagem é do Portal
Porvir
Três tempos de matemática. Intervalo.
Um de história, dois de geografia. Almoço. Química orgânica, história da arte e
educação artística. Intervalo da tarde. Língua portuguesa e redação. Toca o
último sinal do dia: todo mundo para casa porque amanhã tem duas provas. A
rotina de um estudante do ensino médio, no Brasil, pode chegar a incluir, em
uma semana, aulas de 20 disciplinas diferentes. Mas, para o ministro da
Educação, Aloizio Mercadante, essa realidade tem que mudar. "Precisamos de
um currículo que não seja uma enciclopédia. Como é que um jovem nessa idade tem
19, 20 disciplinas?", perguntou ele nesta terça-feira durante o SalaMundo
2013, evento promovido pelo Instituto Positivo, em Curitiba.
A solução que o próprio ministro
sugere é reorientar a grade curricular usando a lógica das quatro grandes áreas
do Enem: linguagens e códigos, matemática,
ciências da natureza e ciências humanas. "É importante articular melhor as
disciplinas", afirma Mercadante. A expectativa do governo é aproveitar o
esforço que já vem sendo feito de preparação para o exame nacional, inclusive
com o material didático que vem sendo usado, para nortear a mudança.
Hoje, o país não tem um currículo
básico mínimo, apesar de a Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, ter
determinado que fosse preciso construir uma base nacional comum - deixando
espaços para que escolas e redes pudessem estampar sua marca em suas grades,
resguardando as características locais das escolas. O que acaba acontecendo,
especialmente no ensino médio, é que a grade curricular é definida pelas
exigências nos diferentes vestibulares do país.
"Esse é um caminho [o de
orientação do currículo pelas quatro áreas do Enem] sério a ser
discutido", concordou Tufi Machado, coordenador de pesquisa do Centro de Políticas Públicas e
Avaliação da Educação da UFJF (Universidade Federal de Juiz de
Fora), também em Curitiba. Mas o professor faz uma ressalva: "Isso deve
ser um mínimo a ser exigido. É preciso haver uma flexibilidade até para aqueles
que queiram se aprofundar em outras áreas", afirmou ele.
"O excesso de disciplinas e de
componentes curriculares tornam o ensino médio penoso e desagradável. É um
desmotivador importante para esses jovens"
Machado foi um dos responsáveis por
uma pesquisa feita com alunos do ensino médio mineiro que apontou que os jovens
estão insatisfeitos com as aulas que lhes são oferecidas. "O excesso de
disciplinas e de componentes curriculares tornam o ensino médio penoso e
desagradável. É um desmotivador importante para esses jovens", diz o
professor, apontando o que chama de "congestionamento curricular"
como um dos fatores que levam à evasão.
Recente pesquisa feita pela Fundação Victor Civita
com adolescentes de baixa renda apontou para a mesma direção. A instituição
perguntou a jovens de 15 a 19 anos de São Paulo e Recife, com renda familiar de
até R$ 2.500, o que eles pensam da escola. Uma das queixas mais recorrentes foi
exatamente a fragmentação do currículo. Para se ter uma ideia, quase 80% dos
alunos viam "utilidade" em no que aprendiam em língua portuguesa e
matemática, mas nenhuma das outras disciplinas teve importância registrada por
mais de 42% dos estudantes.
De acordo com o MEC, cerca de 970 mil
jovens com idade para estar no ensino médio estão fora da escola.
"Precisamos ir atrás desses jovens. Não podemos perdê-los para o tráfico,
para a droga, para o crime. A escola é o lugar deles. É ali que ele vai ter uma
perspectiva de vida. Quem estuda, escolhe o que vai ser. Quem não estuda é
escolhido ou não", afirmou o ministro.
Antes do ensino médio
Também como uma estratégia do governo
federal de engajar os jovens nos estudos, Mercadante destacou nesta
quarta-feira também o programa Quero ser Cientista, Quero ser Professor. A
intenção é dar a 100 mil alunos do ensino fundamental que queiram se dedicar às
disciplinas de matemática, química e física uma bolsa de R$ 150 mensais.
"Na Olimpíada de Matemática, encontramos gênios em cidades que você nem
imagina", disse. Os alunos vencedores de olimpíadas de conhecimento não
precisarão passar pelo processo seletivo para terem direito ao programa.
(Patrícia Gomes, Portal Porvir)
http://porvir.org/porpensar/curriculo-ensino-medio-e-grande-demais/20130807
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