sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Educação básica


Por Marta Suplicy.
Folha de São Paulo, 26/02/2016.

          Existe algo mais importante do que o investimento no professor que trabalha com educação básica? A maioria desses professores, hoje, vem das camadas menos favorecidas e fez cursos que deixam a desejar. Eles, no entanto, é que deveriam ter um preparo de excelência, que os capacitasse a lidar com crianças que nunca viram um material impresso, que nem mesmo sabem o que seja uma letra.
          Foi necessário, contudo, que 100 mil se manifestassem em abaixo-assinado, que acontecesse uma audiência pública prestigiada por vários senadores e deputados federais, na qual ficaram lotados a sala de reunião da Comissão de Educação do Senado e mais quatro plenários, além de um recorde de participação no site do Senado e da campanha #ficaPIBID, na rede, para que o Ministério da Educação (MEC) recuasse de um corte no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), programado para segunda (29).
          O Pibid é um programa estruturante para a formação de professores para a educação básica. Concede R$ 400 mensais a alunos de licenciatura que fazem estágio em escolas públicas e se comprometem, depois, a dar aula na rede pública. O programa paga R$ 765 para professores supervisores e R$ 1.400 para coordenadores.
          Além de atrasos no pagamento de bolsas, no ano passado, agora o MEC propõe corte de pelo menos 45 mil bolsas (50% do Pibid) e a exclusão dos bolsistas que completam 24 meses no programa.
Essas reduções, se concretizadas, poderão impedir o trabalho de 284 instituições do ensino superior, trazendo prejuízos para 5.898 escolas de educação básica em todo o Brasil.
          Hoje, já é difícil que um jovem se interesse pela licenciatura "em vista da desvalorização histórica do magistério", e os que têm interesse não podem ficar desassistidos. O que está sendo enxugado deveria ser ampliado como prioridade absoluta!
          Em 2001-2004, nossa gestão, em São Paulo, investiu na formação de docentes, com resultados que foram modelo para o país. A prefeitura pagou cursos para níveis superior e médio, beneficiando os profissionais da rede municipal. Foram 3.500 professores em cursos superiores e 3.700 funcionários de creches e auxiliares de desenvolvimento infantil (ADIs) em cursos de magistério. Também 11,9 mil professores foram qualificados em cursos de informática e 25,2 mil professores participaram de palestras e oficinas. Os resultados me levam a ter certeza do retorno desse tipo de investimento.
          O corte anunciado pelo MEC significará um gigantesco atraso. Esperemos que essa excelente atitude dos professores e parlamentares mude os caminhos dessa equivocada decisão definitivamente. Sem educação, inexiste solução para o Brasil.

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