Metodologia
criada por norte-americana ajuda alunos de graduação e ensino médio a aprender
como é o trabalho do cientista. Proposta foi premiada pela revista científica
‘Science’.
Por: Célio Yano (Especial para Ciência Hoje
On-line/ PR
Estudante
de graduação (à direita) trabalha com alunas de ensino médio em laboratório da
Universidade da Flórida Central, nos Estados Unidos. Objetivo é comparar o
resultado da análise de diferentes amostras de água. (foto: Erin Saitta)
Há seis anos, quando a professora Erin
Saitta era estudante de pós-graduação em química, foi convidada a participar de
um programa da Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos no qual
estudantes da educação infantil até o ensino médio conduziriam pesquisas reais
em laboratórios. O propósito era fazer os alunos aprenderem na prática como a
ciência é feita, em vez de tomarem conhecimento apenas por meio de livros e
apostilas.
Saitta aceitou a proposta e começou a
trabalhar junto com professores de escolas públicas como orientadora dos
estudantes em atividades de laboratório. Gostou tanto da ideia que, dois anos
mais tarde, desenvolveu o projeto ‘Uma investigação sobre a água que nos
cerca’, que acaba de ser reconhecido pela revista Science em uma premiação que destaca iniciativas
inovadoras no ensino baseado na condução de pesquisas.
O projeto permite que alunos de
graduação e de nível médio façam análises da qualidade da água de suas próprias
comunidades. A proposta é que pensem nos procedimentos que adotarão para chegar
ao resultado, com orientação apenas em caso de necessidade.
“Comecei aplicando a metodologia nas
minhas aulas no curso de graduação em química na Universidade da Flórida
Central [UCF] na primavera de 2010”, conta Saitta em entrevista à CH On-line.
“No outono de 2010, o departamento de química da universidade me pediu que
ensinasse o método para outros professores; assim, metade das aulas passou a se
basear em pesquisas em laboratório.”
No segundo semestre de 2012, todos os
estudantes do curso já estavam envolvidos com experimentos orientados por
pesquisadores. “Isso corresponde a algo em torno de 500 alunos por semestre em
aulas com 24 estudantes por turma”, explica a professora, hoje
diretora-assistente do Centro de Ensino e Aprendizagem da UCF.
O modelo de ensino criado por Saitta
não se resume a ensinar os alunos a avaliar a qualidade de amostras de água. Há
outros dois aspectos importantes: o engajamento social e a divulgação
científica. Isso porque os estudantes de graduação da UCF repassam o que
aprendem para alunos de ensino médio – até agora três escolas públicas foram
beneficiadas.
Estudante de graduação (à direita) com aluna de ensino médio. Além de desenvolver pesquisa, eles aprendem a utilizar seu conhecimento em prol da sociedade. (foto: Erin Saitta)
“Essa geração de graduandos tende a ter
um ímpeto maior de contribuir com a sociedade”, diz Saitta. Além disso, por ter
de falar sobre experimentos especializados para um público leigo, os estudantes
de graduação aprendem que há linguagens diferentes para cada tipo de audiência.
Embora ainda não se tenha um
levantamento sobre os efeitos do método entre os alunos de ensino médio, a
pesquisadora afirma haver evidências claras de que o impacto foi positivo.
“Muitos deles nunca haviam entrado em um campus universitário antes e
nenhum conhecia um laboratório de química por dentro.” Assim, ela acredita que,
ao pensar na carreira que seguirão, os adolescentes já terão refletido sobre a
experiência com ciência, saberão a relevância de se fazer pesquisa e estarão
familiarizados com o método científico.
A metodologia desenvolvida por Saitta
está descrita detalhadamente em um ensaio publicado recentemente na Science.
“Não é apenas uma discussão teórica sobre o método, mas principalmente um guia
prático para sua implantação.” Ela sugere que professores interessados em
adotar o ensino baseado em pesquisa obtenham mais informações em sites como
o do Campus
Compact e do Pogil.
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