Por
Sabine Righetti
http://abecedario.blogfolha.uol.com.br/2017/02/08/base-nacional-curricular-exige-laboratorio-de-ciencias-que-as-escolas-nao-tem/
Apenas uma em cada dez escolas públicas
que oferecem ensino fundamental no Brasil tem um ingrediente importante para
colocar em prática algumas das recomendações da base nacional curricular em discussão no país: os laboratórios de
ciência.
De acordo com dados do Censo Escolar
2015, apenas 9% das escolas públicas de ensino fundamental (1º ao 9º ano)
contam com laboratórios voltados, de alguma maneira, à experimentação
científica. Isso dá menos de 10 mil escolas de ensino fundamental regular, de
um total de 112.393 espalhadas pelo país.
Alguns dos objetivos de ensino descritos na atual Base
Nacional Curricular em discussão dependem de laboratórios de ciências. É
possível, por exemplo, “desenvolver o interesse, o gosto e a curiosidade pela
ciência” sem laboratórios voltados para isso? Não.
A segunda versão da base que propõe conteúdos mínimos para as
escolas – e que ainda deve ser reformulada – é ainda mais específica. De acordo
com o documento, os alunos do 7º ano, por exemplo, devem realizar “experimentos
simples para determinar propriedades físicas, como densidade, temperatura de
ebulição e temperatura de fusão.” Sem laboratórios?
Mais: as turmas do 7º ano também devem
“distinguir substâncias de suas misturas”. E os do 8º ano devem, diz o texto,
“verificar experimentalmente evidências comuns de transformações químicas.”
Hein?
RUIM
NA PARTICULAR
A carência de espaços de experimentação, no entanto, não
está restrita às instituições públicas: as escolas privadas também carecem de
laboratórios para ensinar ciências fora dos livros.
De acordo com dados do Censo Escolar, 65% das instituições
privadas de ensino fundamental contam com laboratórios de ciência. As demais
ensinam ciências da natureza apenas de maneira teórica.
Os dados revelam algumas obviedades. A
primeira é que a Base Nacional Curricular é um grande devaneio se considerarmos
a atual infraestrutura das escolas do país.
Nas áreas rurais, por exemplo, diz o
Censo, só 1% das escolas públicas têm laboratórios de ciência. Como, então,
implementar o que o documento propõe se a melhoria da infraestrutura dessas
escolas nem sequer está na pauta?
ENSINO
MÉDIO
A segunda obviedade é que, nessas condições, todo o debate
sobre reforma do ensino médio – que também está em discussão no país – é
questionável.
Ora, como um aluno vai escolher
efetivamente sua trajetória no ensino médio, como propõe a atual reforma dessa
etapa de ensino, se não teve acesso a condições mínimas para desenvolver
conhecimentos científicos no fundamental?
Trocando em miúdos, estamos discutindo
propostas impossíveis de serem realizadas nas escolas sem que outras medidas
sejam tomadas em curto prazo.
E, pior, estamos impedindo que a imensa
maioria de nossos brasileirinhos tenha condições de desenvolver a curiosidade
científica, de se questionar efetivamente e de tentar achar respostas para suas
perguntas por meio da experimentação.