sexta-feira, 5 de julho de 2013

Sete caminhos para dar sentido ao ensino médio


Fundação Victor Civita perguntou a alunos de baixa renda o que acham da escola; o resultado: os jovens não veem utilidade nela.

          Oferecer um ensino médio de qualidade, aqui ou em muitos países do mundo, é um grande desafio. Quando a população atendida é de baixa renda, então, os indicadores são ainda mais cruéis: são poucos jovens os que chegam a essa etapa da educação, menos ainda os que o fazem na idade certa (no Brasil, conclusão com até 19 anos), os que estão lá muito frequentemente têm acesso a um ensino de qualidade ruim, as taxas de evasão são altas e o aprendizado adquirido com as aulas normalmente é considerado insuficiente nas avaliações oficiais do governo. Diante desse quadro, a Fundação Victor Civita foi a campo perguntar aos jovens de 15 a 19 anos de São Paulo e Recife, com renda familiar de até R$ 2.500, o que eles pensam da escola.
          O resultado, tomado a partir da perspectiva dos alunos, foi sintetizado em cinco grandes problemas: falta de conexão entre a escola e o projeto de vida de cada um, currículo fragmentado e com poucas aulas práticas, baixo uso de tecnologia em sala, falta de professor e também de infraestrutura e de segurança (confira infográfico). Em resposta a esses pontos, os especialistas da fundação trouxeram sete recomendações distintas. Vasculhamos nossos arquivos e encontramos alguns exemplos que podem ser meios de viabilizar as sugestões da pesquisa.

Aproximar a escola do universo dos alunos e proporcionar aprendizado significativo
          Talvez a maior conclusão da pesquisa, da qual advém direta ou indiretamente todas as outras, é a de que os jovens não veem sentido na escola. Assim, agrupamos duas das sugestões apresentadas separadamente na pesquisa que se relacionam intimamente com esse achado: aproximar a escola do universo dos alunos e proporcionar aprendizado significativo.
          De acordo com a pesquisa, as duas únicas disciplinas que os jovens disseram ter alguma utilidade em suas vidas são matemática (77,6%) e língua portuguesa (78,8%). Depois dessas duas, aparece o inglês, com 41,4%, e as demais vão diminuindo gradativamente a importância até chegar em literatura, com apenas 19,1% dos alunos dizendo ver serventia na matéria. A falta de conexão entre a escola e o que os alunos desejam para as suas vidas acaba sendo uma justificativa para as taxas de evasão do ensino médio. De acordo com a Pnad 2011, apenas 51,7% dos jovens entre 15 e 17 anos estavam matriculados nessa etapa.

          O Porvir já trouxe iniciativas brasileiras que tentam ressignificar a importância de estar na escola, como os ginásios pernambucanos. Nessa concepção de escola integral, que já chega a outros estados do país, os alunos ficam o dia inteiro na escola, e têm uma carga de disciplinas eletivas. Com isso, os jovens podem estudar assuntos pelos quais mais se interessam, além de terem oportunidade de troca com colegas com interesses parecidos.
          Internacionalmente, algumas experiências que merecem destaque são as redes norte-americanas High Tech High e Summit. Em comum, essas escolas oferecem programas de acompanhamento individualizado dos alunos e um currículo com flexibilidade para que eles descubram e se dediquem às suas paixões. Em ambas, cada aluno tem um professor tutor, que serve de elo entre a escola e a família, e dá orientações personalizadas segundo o que cada um pretende seguir como carreira. A oportunidade de estudar assuntos que lhes interessa acaba fazendo com que os estudantes se engajem mais no seu aprendizado e tenham contato com informações que consideram "úteis" para sua vida futura.
          Além dessas experiências, a metodologia de aprender por projetos, que ocorre tanto na iniciativa brasileira quanto nas norte-americanas, também é uma forma de envolver mais o jovem e colocá-lo no centro de seu aprendizado. Pelo método, chamado de project-based learning em inglês, os alunos devem desenvolver um projeto em grupo - as possibilidades são muitas: vão desde a construção de um robô capaz de fazer entender a voz humana até a criação de uma campanha de sustentabilidade para a escola. Normalmente, o desafio é multidisciplinar, o que obriga os alunos a lidarem tanto com conhecimentos práticos de várias disciplinas como com habilidades que lhes serão cobradas na vida, como a capacidade de trabalhar em grupo, resolver problemas e criticar resultados alcançados.
          "Para mudar esse cenário [da falta de conexão entre vida e escola], é preciso que as escolas coloquem os alunos em posição de protagonismo. Nesse sentido, o uso integrado das tecnologias é fundamental", afirma Angela Dannemann, diretora-executiva da Fundação Victor Civita, introduzindo a próxima sugestão trazida pela instituição.

Usar as novas tecnologias com propósito pedagógico
          "Muitos dos entrevistados, mesmo sendo oriundos de famílias com rendas muito baixas, disseram ter acesso às tecnologias móveis, sobretudo com celulares. E a escola vira as costas para essa realidade", afirma Dannemann. Segundo a pesquisa, 70,6% dos entrevistados disseram ter acesso à internet de casa e 57,6% usam celulares ou tablets para entrarem em sites ou em redes sociais.
          Durante os grupos focais da pesquisa, falas dos alunos deixam essa realidade ainda mais evidente. "A professora nem sabia o que era Twitter, não entende o que a gente faz", disse uma estudante de 15 anos de São Paulo. "Para mim, a escola parou no tempo. Eu trabalho, sou independente, no meu trabalho eu não uso o celular sempre porque eu sei que tenho que trabalhar. Mas quando tenho uma folga, pego o celular e fico na [inter]net. Na escola ficam controlando a gente", disse uma jovem de 18 anos que abandonou os estudos e hoje trabalha como atendente numa pizzaria em São Paulo.
          Os especialistas sugerem na pesquisa que a escola se dedique a desenvolver no jovem as competências exigidas no século 21. "De certa forma, os jovens estão sendo cada vez mais 'empoderados' em função de seu maior domínio das novas tecnologias de comunicação e informação. Trata-se de uma geração que se coloca, frequentemente, na posição de ensinar os pais e, não raro, os próprios professores", diz o relatório final. Além do acesso à tecnologia, os professores precisam estar capacitados para utiliza-los para melhorar a qualidade e a atratividade das aulas, recomenda o estudo - o que se relaciona com a próxima recomendação.
          Como uma das estratégias para aproximar o universo de professores e alunos da tecnologia, uma das possibilidades trazidas pelo Porvir é o uso de objetos digitais de aprendizagem gratuitos disponíveis na internet, como as aulas da Khan Academy (muitas das quais já dubladas para o português).

Garantir professores presentes e preparados
          Uma das reclamações mais frequentes entre os alunos que haviam abandonado os estudos, afirma Dannemann, estava no fato de os professores faltarem muito e não construírem laços com os estudantes. Entre os que frequentam a escola, há uma maior compreensão sobre a rotina do professor, o que não se repete entre os que já abandonaram os estudos.
          "Vários desses conflitos foram narrados por participantes. Apesar da existência de algumas narrativas mais dramáticas, na maior parte dos casos, a descrição dos jovens justificava esses conflitos recorrendo a argumentos atenuantes, como a sobrecarga de trabalho por parte de alguns profissionais, somada à quantidade excessiva de alunos", apontou o relatório final. As sugestões da fundação passam por ter melhores salários, plano de carreira e uma formação adequada, além de oferecer condições para que a profissão seja mais valorizada na sociedade.
          Outra possibilidade de fazer com que os professores se tornem mais presentes e preparados está a capacitação da classe para trabalhar com o ensino híbrido, metodologia em que o docente torna-se o responsável por mediar a troca de conhecimentos, e não mais representa o dono da sabedoria. Nesse tipo de ensino, conhecido em inglês por blended learning, o professor mescla momentos de ensino a partir de recursos virtuais com circunstâncias de troca presencial de informações e experiências. Esse tipo de dinâmica ressignifica a presença do professor, tornando-a mais importante e mais estratégica.

Melhorar a infraestrutura e zelar pela segurança
          A melhora da infraestrutura trazida pela pesquisa diz respeito a condições de insumos básicos, como possuir carteiras, lousas, bibliotecas, boa conservação da escola no geral. "Isso pode ser feito logo. Mas é preciso envolver os jovens. Se não, o aspecto da escola pode até melhorar, mas não dura", afirma Dannemann.
          Assim como na questão da infraestrutura, a segurança, apontada pela pesquisa como um item separado, também tem melhoras significativas quando a comunidade passa a fazer parte do cotidiano escolar. Iniciativas que trouxeram a comunidade para dentro da escola, como a da escola Campos Salles, em Heliópolis, ajudam a diminuir as ocorrências de violência.

Diversificar modelos de formação
          Outra das recomendações trazidas pela pesquisa está a elaboração de vários modelos de ensino médio, de forma a atender às diferentes demandas da população de baixa renda. "Precisamos de uma mudança cultural. Não precisamos ter um modelo só no país inteiro. Temos é que ter modelos diferentes, de acordo com a necessidade dos alunos", afirma Dannemann, que cita como urgentes a adoção de modelos profissionalizantes, para os alunos que já queiram aprender um ofício, um ensino noturno de qualidade, voltado aos estudantes que precisam trabalhar durante o dia, e os modelos de educação integral, em que poderão se matricular os jovens que dispõem do dia inteiro para os estudos.
(Patrícia Gomes e Vagner de Alencar, Portal Porvir)
http://porvir.org/porpensar/7-caminhos-para-dar-sentido-ao-ensino-medio/20130701

quarta-feira, 3 de julho de 2013

II Ciclo de Seminários dos Pibidianos da Química

  
          
 
          

04 de Julho de 2013 (Quinta-feira)



1) A Visão de Estudantes do Ensino Médio Sobre a Química e os Profissionais de Química


Carla Patrícia de Oliveira Alves (Pibidiana do 6º Período)


Horário: 10:00 às 10:30




2) O Debate como Estratégia em Aulas de Química


Patrícia da Silva Oliveira (Pibidiana do 6º Período)

 
Horário: 10:30 às 11:00





Apoio

terça-feira, 2 de julho de 2013

Licenciaturas estão entre os cursos menos procurados


JC e-mail 4757, de 28 de Junho de 2013.  
10. Vestibular: licenciaturas estão entre os cursos menos procurados


Com salários baixos e condições de trabalho muitas vezes precárias, são poucos os jovens que se interessam pela carreira de professor, informa reportagem do Portal Terra
Com salários baixos e condições de trabalho muitas vezes precárias, são poucos os jovens que se interessam pela carreira de professor. Os números dos vestibulares de grandes universidades do Brasil comprovam o desinteresse: os cursos de pedagogia e licenciaturas estão entre os menos procurados nas instituições de ensino superior brasileiras.
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 466 pessoas se inscreveram para o curso de pedagogia no vestibular de 2013. Cursos mais tradicionais, como arquitetura e jornalismo, foram procurados por 1.706 e 916 estudantes, respectivamente. O desinteresse entre as licenciaturas é mais explícito: química teve apenas 62 candidatos, e física, 148. As licenciaturas em teatro e artes visuais são os cursos menos procurados na federal gaúcha: foram 49 e 55 inscritos, respectivamente. Na soma, as licenciaturas e pedagogia têm 23,43% do número de inscritos para o curso mais procurado na UFRGS, medicina, e correspondem a 4,05% do total de candidatos do vestibular.
Em outras universidades com conceito máximo no Índice Geral de Cursos - baseado na média ponderada das notas das graduações e pós-graduações de cada instituição -, a procura também é baixa: na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pedagogia e licenciatura representaram 4,23% da procura por cursos no vestibular de 2013. Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), corresponderam a 11% dos inscritos. Em instituições privadas, o cenário se repete: na PUC Rio, pedagogia teve 51 inscritos em 2013; as demais licenciaturas somaram 311 candidatos. Juntas, representam 3,12% dos inscritos no vestibular. A PUC de São Paulo divulga apenas a procura pelos cursos nos quais a relação candidato por vaga é superior a dois. No vestibular de inverno de 2012, houve 34 inscritos para 10 vagas ofertadas em pedagogia. Já na seleção de 2013, nenhuma licenciatura aparece na lista.
Para a coordenadora do curso de pedagogia da UFRGS, Tânia Marques, o grande motivo que afasta os jovens da carreira de professor é a remuneração. O piso nacional para uma jornada de 40 horas dos profissionais da educação é de R$ 1.567. No entanto, em 10 Estados o mínimo não é respeitado. "Os estudantes acabam buscando, no magistério, realização profissional, pois veem que o trabalho que exercem faz diferença. Mas, por mais que seja importante ter prazer no que se faz, é necessária uma valorização maior do profissional, até para atrair as pessoas", afirma Tânia.
Na opinião da coordenadora do curso de pedagogia da UFSC, Maria Sylvia Carneiro, falta vontade política para melhorar as condições de trabalho dos docentes. "Isso envolve salários, plano de carreira, formação adequada e manutenção da estrutura física", diz. Outra problemática, alerta, está no mercado de trabalho: "Há muita rotatividade em função das condições de trabalho. Nas redes públicas de ensino, lamentamos que não se aumente o número de vagas para professores efetivos, que podem construir sua carreira de uma forma digna. Ainda temos muitas vagas para professores substitutos, que enfrentam condições muito adversas, com contratos precários e sem garantia de continuidade". Para a professora, o contexto é reflexo da falta de planejamento a longo prazo para a educação. "Pense no investimento em formação continuada, no desenvolvimento de projetos pedagógicos. Em um ano, é um grupo de professores, no outro, não há garantia de que o grupo se mantenha", critica Maria.

Amor à profissão
O quadro, pouco animador no Brasil, se repete em outras partes do mundo. Uma lista da revista norte-americana Forbes de março deste ano colocou a profissão de professor como a quinta mais infeliz. Frente a isso, resta aos estudantes o amor à profissão. Tânia relata que seus alunos na UFRGS não estão ali por falta de opção, mas sim porque buscam realização profissional, acima do retorno financeiro. Maria vê, na UFSC, um desejo de transformação: "Eles desejam atuar de forma diferente daquela que vivenciaram em sua trajetória escolar", relata.
Germana Nery Machado, estudante de história na PUCRS, em Porto Alegre, conta que a vontade de cursar uma licenciatura surgiu da admiração que sempre teve por seus professores. "Quero fazer algo parecido, eles influenciaram minha visão de vida", diz. Para ela, a falta de compensação financeira não assusta. "Por falta de interesse de outros, não parece difícil entrar no mercado de trabalho", analisa, e completa: "Passar fome eu não vou". Sobre a baixa procura pelos cursos, ela comenta que, por mais que no início das aulas as turmas não estejam completas, com as chamadas adicionais todas as vagas são preenchidas.
Gabriella Amaro, que já cursou magistério e hoje frequenta aulas de história na PUCRS, também não se deixa abalar pela falta de retorno financeiro na carreira escolhida. "Temos que tentar fazer a diferença. A questão do dinheiro assusta um pouco, mas não pode prevalecer", resume. Ela já estagiou em três escolas, e considera o acesso ao mercado de trabalho fácil, já que há alta rotatividade. Eduardo Hass, colega de história na PUCRS, leva a parte da responsabilidade para o professor. Para o universitário, também deve partir do docente a iniciativa para fazer a diferença na educação. "Tem professor que ganha um salário muito alto para sua atuação em sala de aula", declara.
Eduardo, assim como Germana, Gabriella e outros mais, encontraram na carreira de professor um meio de fazer diferença no mundo.

(Portal Terra)